terça-feira, 28 de dezembro de 2010

[À Descoberta de Vila Flor] Vila Flor à noite 2/2



Vila Flor à noite, no dia 24 de Dezembro de 2010, depois da "Missa-do-galo".

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 12/28/2010 12:47:00 AM

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

[À Descoberta de Vila Flor] Cantos da Montanha ( VI -1 )


Não sei se só existe na minha lembrança
o monte de Faro, nula juventude renovada
com simulacros de árvore de cartolina verde.
De qualquer modo é na curvatura da distância
que está pousado em seus premonitórios fulgores
a acender os castiçais mortiços da manhã.

Que este breve instante
de evocação de magnas raízes
me traga as asas dos milhafres refractando o sol
de setembros flagrantes de mosto.
E de novo vá buscar pequenos pinheiros
de sagrar natais perdidos nos olhos
cegos de tanto se fecharem
no contemplar da sua inexistência.

Poema do mais recente livro do Dr. João de Sá, Cantos da Montanha (Canto VI, 1).
Fotografia: montes entre Vilas Boas e Vilarinho das Azenhas.

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 12/27/2010 12:08:00 AM

domingo, 26 de dezembro de 2010

[À Descoberta de Vila Flor] Vila Flor à noite 1/2



Fotografias em Vila Flor no dia 24 de Dezembro de 2010.

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 12/26/2010 09:00:00 PM

[À Descoberta de Vila Flor] Cogumelos - Moncoso (Suillus granulatus)

O tempo foi passando e não cheguei a terminar a série de postagens que estava a fazer sobre os principais cogumelos espontâneos, do concelho. Há mais dois de que tinha pensado falar, e hoje vou apresentar mais um: o moncoso. Embora a sua identificação no terreno seja relativamente simples, também pela película escorregadia que lhe conferem este tão pouco dignificante nome, é aquele em que tenho mais dificuldade em dizer com precisão o nome científico.É sem dúvida um boleto, pertence ao género suillus, mas na espécie não tenho a certeza de que se trata do Suillus granulatus.
Nalguns anos é muito frequente encontrando-se muitas vezes em grupos bastante numerosos, não sendo difícil encher uma cesta deles. O seu aspecto viscoso não é muito atractivo e as coisas pioram quando depois de se apanharem alguns a pele dos dedos que com ele contactaram fica negra. Contudo, depois de bem limpos e cozinhados, são dos meus preferidos.
O himenóforo (local onde se encontram os esporos)situado por baixo do guarda-chuva ou campânula e é constituído por tubos ao contrário das sanchas que têm lâminas. Quer a película que cobre o guarda-chuva quer esta camada de tubos por baixo devem ser retirados, ficando os cogumelos com um bonito aspecto de cor amarelo-pálida.

Características: o chapéu, inicialmente hemisférico e mais tarde convexo e baixo, tem 4 a 10 cm de diâmetro e uma cor castanha-amarelada, avermelhada ou ainda vermelha-acastanhada. A cutícula é pegajosa quando seca e fortemente gordurosa quando cl1ove, sendo a carne branca a amarelada. Os tubos ligeiramente decorrentes começam por ter um tom amarelo-vivo, passando mais tarde a acre ou amarelo-acastanhado; os poros angulares, muito pequenos quando jovens, são da mesma cor dos tubos. Os esporos fusiformes têm 7 a 10 x 3 a 4 µm de tamanho; o pó dos esporos é acastanhado a oliva. O pé cilíndrico tem 3 a 7 cm de comprimento e 1 a 1,5 cm de espessura, apresentando cor branca a amarelada, tomando-se muitas vezes acastanhada na idade adulta. Os pés dos exemplares mais jovens exsudam umas gotas leitosas que muitas vezes adquirem uma tonalidade escura com a queda do pó dos esporas conferindo, de-
pois de secas, a granulação castanha típica do pé.
Habitat: Esta espécie frequente nalguns locais nasce principalmente sob pinheiros bravos; os corpos frutíferos surgem entre Junho e Novembro.
Valor: Comestível e muito saboroso.
Fonte: adaptado do Guia dos Cogumelos (Dinalivro)


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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 12/26/2010 12:32:00 AM

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

[À Descoberta de Vila Flor] Feliz Natal

Desejo um Bom Natal a todos os visitantes do blogue À DESCOBERTA DE VILA FLOR.

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 12/24/2010 08:46:00 PM

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

[À Descoberta de Vila Flor] Frio

Já há alguns dias que não dou "sinais de vida" no blogue, mas, felizmente, a minha actividade À Descoberta de Vila Flor, não terminou, nem sequer baixou. Simplesmente conjugaram-se um conjunto de factores que fizeram com que a minha actividade de Bloguer tenha diminuído.
Hoje, volto, e com palavras do mesmo autor que publiquei na última postagem. Dia 22 de Dezembro é também o aniversário do nascimento do vilaflorense José do Nascimento Fonseca (22-12-1940). Juntamente com os votos de um Bom Natal, lanço também o desafio para que seja feita uma compilação, e publicação em livro, das muitas contribuições que deixou espalhados por vários jornais da região. Seria uma grande homenagem.


Rangem portas desengonçadas nos portais da vida.
Um cão ladra. E foge com medo de ser homem.
Na esquina, ela vendia laranjas, duas a croa, é para quem quere, leve que são boas.
A chuva cai. Chuva de molhar tolos.
- Que chova hoje tudo para ser claro o nevoeiro que amanhã virá.
- Quem és tu? Foge de mim, ser abandonado. Quiseste-me para prazer, odeio-te, vai-te embora, deixa a tua sombra.
Do relógio na sala rolam horas empurradas por tectos abertos. Uma manta esburacada cobre aquela criança que segura um pano de alça atravessada.
A terra está quente. Os lençóis frios.
A mulher que vendia laranjas já morreu.
Poque não havia quem as quisesse e duas a croa.
Ela partiu.
No testamento, uma lágrima de sal até ao canto da boca de pedra. Na sepultura, o epitáfio da sua vida no murmúrio da voz eterna nos remorsos dos culpados - duas a croa, é para quem quere, leve que são boas.
Publicado no jornal Enié a 3 de Setembro de 1975.

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 12/22/2010 10:35:00 PM

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

[A Linha é Tua] O que diz a comunicação social - Dez2010



Outras notícias

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Publicada por Xo_oX em A Linha é Tua a 12/22/2010 11:32:00 PM

[A Linha é Tua] O que diz a comunicação social - Nov2010


Outras notícias

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Publicada por Xo_oX em A Linha é Tua a 11/29/2010 12:02:00 AM

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

[À Descoberta de Vila Flor] Conto - Aninhas

Hoje, dia de Nossa Senhora da Conceição, dia santo, foi uma boa oportunidade de sair à Descoberta de mais algum recanto do concelho. Mas, tal não aconteceu. Os dias têm estado cinzentos, frios e chuvosos. Juntamente com as luzes que piscam nas ruas e nas janelas das casas, vem a saudade do calor da lareira, recordações longínquas da matança do porco, das brincadeiras de criança, de histórias contadas (e nunca escritas)de mouras encantadas, amores que partiam para a guerra e ... príncipes e princesas.
Hoje também é um dia especial para uma assídua visitante do Blogue. Por isso decidi brindá-la com um conto. Não é um conto qualquer, mas sim um conto que, tenho a certeza, representará muito. Na impossibilidade de lhe poder oferecer flores, brindo-a com alguma das pequenas maravilhas que captei, em momentos de primavera, tal como o conto, em volta do local onde vivo, algumas na borda dos passeios.
É um pouco de Primavera, antes que o Inverno chegue.
Em tempos remotos, numa casa modesta e afastada do grande rumor da aldeia próxima, vivia uma esbelta rapariga com sua mãe viúva.
Era bela. Fascinava. Dezoito anos. Tranças pendentes sobre os ombros, de um cabelo negro e ondulado. Face morena, mas mimosa. Olhos castanhos, bem feitos, sobrepostos por cerradas sobrancelhas. Sedutores contornos do corpo, magro e bastante alto.
Frequentes vezes foi assaltada pelo amor de um conde, além de outros amores ardentes que lhe caldeavam o coração. No entanto, o apetite matrimonial era fraco, sendo bem mais intenso o desejo de sua Mãe, empenhada, dia a dia, em dá-la ao conde, que amorosamente a procurava. Apesar de este se prender fortemente a ela, Aninhas continuava fria, em assunto de semelhante espécie. Mas «água mole em pedra dura, tanto dá até que a fura»...
O Conde via, passados meses poderem transformar-se em reais os seus sonhos dourados. Uma fresca manhã ao dealbar da aurora, aparece a bater à porta do casebre. Pedia esmola, feito mendigo. Todo roto. Grossa bengala na mão esquerda. Olhos fechados, a fingir-se cego. Tronco dobrado, a fazer-se velho. Cabeça coberta por enorme chapéu cinzento, todo esburacado, com um remendo branco pregado a linhas pretas numa das abas.
Bate e começa a pedir, cantando em voz suave. Aninhas acorda, estremunhada, e sente-se atraída por aquele canto. Escuta. Parece conhecer a voz. A Mãe, sabia de tudo, pois fora ela que combinara com o conde vir ali, daquela forma.
A chama crepitante do amor vai-se acendendo. E, tocada de repente por vagos pensamentos diz para a mãe:
- Levante-se, minha Mãe,
Desse leve dormir,
Se quer ouvir o cego,
A cantar e a pedir.
Replica a Mãe, em resposta:
- Se canta e pede,
Dá-lhe pão e vinho,
E o ttriste cego
Lá vai a caminho.
Diz o falso mendigo, em tom de pedinte:
- Não quero seu pão,
Nem quero seu vinho.
Só quero que a Aninhas
Me ensine o caminho.
O Sol, imenso disco refulgente, surge, pouco a pouco, por entre a vasta cordilheira de montes aguçados. A capoeira começa de pôr-se alvoroçada. A aurora vai desabrochando lentamente, prometendo um sossegado dia azul de Maio.
A Mãe volta a dialogar com a filha, apontando o que havia de fazer:
- Anda, anda, Aninhas,
Veste a saia branca,
Carrega a roca de linho.
Ensina o caminho
Ao triste ceguinho...
A filha levanta-se. Cumpre as ordens maternas. E, beijada a mãe, parte, acompanhando o pobre. Parecia uma tenra açucena encostada a um tronco velho e podre.
Os melros assobiavam, deliciosamente. A rola começava a gemer nos ninhos. O rouxinol entoava melodias encantadoras. A água cristalina ciciava , na verde relva que cobria os campos. Bandos de pombas entrecortavam o espaço. Andorinhas deslizavam, velozes, no céu. Tudo era manso e belo, naquela madrugada.
Calcorreados longos caminhos, os pés quase esfalfados, Aninhas acaba por dizer.
- Aacabou-se-me a roca,
Esfiou-se-me o linho.
Adiante, ó cego,
Lá vai o caminho.

- Anda, anda, Aninhas,
Mais um pouquinho.
Sou curto da vista,
Não vejo o caminho.

Vislumbra-se o lugar onde são esperados pela família do conde e fidalguia amiga. Pelo que vê, ao longe, julgando tratar-se dalguma festa, canta a donzela:
Valha-me Deus
Ea Virgem Maria.
Quanta gente passa
Para a romaria.

- Anda, anda, Aninhas,
Mete-te debaixo desta capinha.
Quanta gente vai
Para a romaria!
Ela, pensando um momento, julga ter de unir-se, irremediavelmente ao companheiro. Então principia de lamentar os tempos de outrora. Podia ter casado, feliz, com um conde e, agora, vê-se junto de um velho, pobre, sem coisa alguma:
- De duques e condes
Eu era pretendida.
Agora dum triste cego
Me vejo rendida.
Chegou o momento asado do conde se revelar. Abraça aa jovem pesarosa e canta:
Eu nunca fui cego
Nem Deus tal permita.
Sou um destes condes
Que lucrar-te queria.
Perante os olhares perscrutadores de Aninhas, atira com os farrapos para longe. Abre os olhos e sorri para ela, que o reconhece.
Julgam-se felizes. A família recebe-os carinhosamente. A nobreza saúda-os. O cortejo principia a desfilar. Um cavalo novo, sela e freios dourados, transporta-os direcção à morada.
O conde louco de amor, sente-se feliz como nunca. Uma alegria imensa invade-lhe o espírito. Já possui a riqueza tão suspirada.
Aninhas, coração mais sensível vendo-se deste modo presa para sempre àquele que lhe conquistou o coração, profere o seu adeus. Sentimentos sinceros. Saudades.
- Adeus, minhas casas,
Adeus pedra de montar.
Enquanto o mundo for mundo,
Pedra me há-de alembrar.

Adeus, minhas casas,
Meus lindos arredores.
Adeus, meus irmãos,
Meus belos amores...

Adeus, minhas casas,
Adeus aias minhas.
Adeus, minha mãe,
Que tão mal me querias.

Adeus, minhas casas,
Minhas lindas janelas.
Adeus, minha Mãe,
Que tão falsa me eras...
O tempo passa e Aninhas recolhe à doçura abençoada do seu lar. Naquele instante, uma campainha retiniu nove badaladas, dentro do castelo.
O conde sorriu para ela, tomando-a nos braços.

Conto recolhido no Nabo, publicado por J. N. Fonseca no jornal Mensageiro de Bragança, a 2 de Junho de 1961.

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 12/08/2010 09:10:00 PM

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

[À Descoberta de Vila Flor] Chuva

Cai chuva lentamente
Na rua
E sobre os campos...

Dentro de mim
Também cai chuva
De dó de tanta gente
Que vejo na rua,
Desnudada
De luz. Já sem encantos.

Quem dera cobrir
Tanta gente que anda assim.
Fazer bem
E fazer rir
Crianças sem terem mãe.
Iluminar
Tantas que dormitam
No fourel do ninho
Inábeis  para voar...

Cai chuva lentamente,
Miudinha e compassada
Na rua
E sobre a gente
Que caminha na estrada
Sem saber o seu caminho...

J. N. Fonseca
Outono/61

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 12/06/2010 01:49:00 PM

[À Descoberta de Carrazeda de Ansiães] À Descoberta de Pereiros 3/3

Continuação de - À Descoberta de Pereiros 2/3

A paragem seguinte foi no largo Luís de Camões. Talvez tenha sido esta uma das primeiras áreas a ser povoada. A antiguidade das casas assim o demonstram, embora haja outras zonas igualmente antigas.
Neste largo é possível observar uma das casas mais nobres da aldeia, com o seu brasão, que também ostenta o elmo eclesiástico. Pertenceu ao reitor dos Pereiros no séc. XVIII e XIX. Tem, no balcão, gravado o ano de 1843 e é conhecida pela designação de Casa dos Caiados.
De junto dela parte uma canelha que desce em direcção ao ribeiro e a outro representante emblemático do património edificado de Pereiros: a ponte das Olgas. As águas que escorrem das montanhas formam várias ribeiras. Uma das mais importantes é a ribeira da Gricha. Juntam-se, passam sob a ponte das Olgas, e a água corre em rodopio pela ribeira das Lajes até atingir a ribeira da Cabreira, já perto do rio Tua. O declive foi aproveitado para a colocação de moinhos, movidos pelas abundantes águas do Inverno. Hoje restam alguma ruína, que não tive tempo de visitar.
A ponte (elemento representado na bandeira da freguesia) serviria para estabelecer a ligação entre Freixiel e Pereiros, fazendo possivelmente parte de uma via, em grande parte, calcetada. Apresenta um único arco de volta perfeita, um tabuleiro plano lajeado a granito, guardas também em granito e duas rampas de acesso. Embora de cronologia indeterminada, parece-me exagerada a designação de ponte Romana. Esta designação é atribuída a muitas fontes e pontes muito posteriores aos Romanos.
De regresso ao povoado atravessei a rua principal, onde, além de algumas interessantes construções em granito, é possível encontrar a fonte da Rua. Neste local concentram-se as pessoas nas tardes de Domingo, dado que aqui existem, desde há muitos anos, uma taberna e agora um café. Esta fonte está bem preservada, mas, a fonte do Poço vai-se apagando na memória das pessoas, foi soterrada.
Outra das curiosidades existentes, na travessa Cândido dos Reis, é uma cara esculpida em granito, na parede duma casa, a que dão o nome de "cara" de Pereiros. Uma situação semelhante já constatei em de Mogo de Malta, mas há outras, por exemplo em Parambos.
Mesmo no final da rua está a capela de Santo André. Voltada para a rua, ocupa uma posição elevada em relação a esta. Esta posição foi-se acentuando por rebaixamento da estrada. A sua construção foi provavelmente entre os anos de 1807 e 1810. À pequena torre sineira, possivelmente encimada por uma cruz, faltam algumas pedras e o sino. O interior está recuperado e limpo. Santo André, Santa Eufémia e o Menino Jesus de Praga são as imagens que se encontram no altar. A base deste altar tem muitas semelhanças com as da igreja de Zedes. No exterior, num dos alçados laterais, há um painel de azulejo monocromático de alminhas, colado de uma forma muito humilde. O painel é muito bonito e pouco frequente, dentro daquilo que é o meu conhecimento. Apresenta, em baixo, a mensagem: "É o Santo Sacrifício da Missa o Sufrágio por Excelência das Benditas Almas do Purgatório".
Depois de percorrer os principais pontos de interesse e as ruas mais importantes, seria interessante embrenhar-me nas ruelas mais estreitas que sobem para o cabeço, concentrar-me nas tradicionais casas rusticamente construídas em granito, mas o calor era muito. Para descansar um pouco procurei um dos lugares mais calmos e frescos que existe na aldeia, a fonte do Vale.
Situada a algumas centenas de metros do povoado, desta fonte brota água fresca de forma ininterrupta. Aqui se reabasteciam de água potável no passado e lavavam a roupa no enorme tanque. Recentemente já foi uma solução alternativa, uma vez que a falta de água tem sido uma constante no concelho.
Beber a água fresca saída da montanha e apreciar a bela paisagem que começa em Codeçais (aldeia anexa de Pereiros) e se prolonga por terras de Murça e Mirandela, na outra margem do Tua, foi uma boa forma de terminar a minha visita a Pereiros. Uma visita a esta simpática terra cheia de gente acolhedora, proporciona uma experiência completamente diferente em cada época do ano. Só vindo cá, se pode viver essa experiência na plenitude. O convite está feito.
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Bibliografia
PEREIRA, António Luís e LOPES, Isabel Alexandra Justo (2005)- Património Arqueológico do Concelho de Carrazeda de Ansiães. Carrazeda de Ansiães: Câmara Municipal.
MORAIS, Cristiano (1995) – Estudos Monográficos Vila Flor - Freixiel. Vila Flor: Câmara Municipal.
TAVARES, Vírgilio (1999) – Conheça a Nossa Terra – Carrazeda de Ansiães. Edição do Autor.
MORAIS, Cristiano (2006) – Por Terras de Ansiães, Estudos Monográficos. Volume 1. Carrazeda de Ansiães: Câmara Municipal.

Agradeço ao Sr. Presidente da Junta da Freguesia de Pereiros e a Fátima Calixto todos os apoios que me deram.

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Carrazeda de Ansiães a 12/06/2010 12:50:00 AM

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

[À Descoberta de Carrazeda de Ansiães] À Descoberta de Pereiros 2/3

Continuação de - À Descoberta de Pereiros 1/3

Pereiros tem a sua história ligada ao concelho de Freixiel. A sua localização geográfica faz com que as deslocações fossem mais fáceis para Freixiel, ou Abreiro do que para Ansiães. Transpor o acentuado declive em direcção a Carrazeda de Ansiães, depois de uma noite de geada, era uma tarefa difícil para o autocarro, quando este começou a transportar os estudantes da aldeia para Carrazeda. Isto há poucos anos! Para atestar estas dificuldades nas vias de comunicação, ainda estão bem preservados restos de caminhos lajeados, lembrando as calçadas romanas. Quando se desce de Zedes para Pereiros, perto da estrada actual, há vários troços destes caminhos.
Não admira que as deslocações para Freixiel fossem mais fáceis, até porque, o termo da freguesia, estende-se até ao cume da Serra Tinta, a poucos quilómetros do Vieiro, muito para lá da ribeira da Cabreira. Nesta ribeira existiu uma ponte em madeira que permitia transpô-la. Na encosta da Serra Tinta existiu uma capela de que ainda são visíveis as ruínas.
No séc. XVI Pereiros integrava o concelho de Freixiel, pertença do Marquês de Vila Real e tinha 21 moradores . Em 1706 tinha 60 e em 1758, 112 moradores. Nos séculos XVIII e XIX a população evoluiu da seguinte forma: 1864, 635 habitantes; 1890, 753 habitantes; 1920, 645 habitantes; 1940, 728 habitantes; 1960, 684 habitantes; 1981, 524 habitantes (dados sempre referentes à freguesia e, por isso, incluindo os habitantes de Codeçais).
Em 1836, com a extinção do concelho de Freixiel, a freguesia de Pereiros (Pereiros e Codeçais) foi anexada ao concelho de Carrazeda de Ansiães.
Em 1967 Pereiros foi a capital de freguesia eclesiástica. Integrava as freguesias de Pereiros, Pinhal do Norte, Pombal, Zedes e Freixiel. A paróquia civil de Pereiros tinha 845 fogos enquanto que a de Carrazeda de Ansiães contava apenas com 536!
Deixei o Cabeço em direcção à igreja. Pouco depois de passar a Junta de Freguesia encontrei a Fonte Nova. Trata-se de uma bonita e bem preservada fonte de mergulho, onde corre sempre água fresca. Alguns peixes dão vida ao reservatório de água e há um tanque exterior para os animais beberem.
Junto à igreja está uma outra fonte, no Largo de S. Amaro. Neste largo realizava-se o arraial das festas da aldeia: Santo Amaro, a 15 de Janeiro e Nossa Senhora de Fátima, no segundo Domingo de Julho. Nos últimos anos também se tem realizado a Festa do Emigrante, em Agosto. Foi também neste largo que fui encontrar a anfitriã que me acompanharia na visita à igreja, onde foi catequista e é zeladora há muitos anos: Helena Borges. Esta anciã mantém uma vitalidade e lucidez invejáveis, sendo ainda procurada por muitas pessoas para lhe administrar injecções! É um dos meus familiares em Pereiros e, antes da visita à igreja, fizemos uma visita ao passado.
Durante muitos anos fez mantas de trapos, no tear, sendo solicitada por gente de várias freguesias, como Zedes e Freixiel. Recordei, com saudade, uma viagem que fiz a Pereiros, em menino, de burro, transportando sacos de trapos cortados em tiras, para a prima Helena, que morava no Cabeço, fazer uma manta. As encomendas eram tantas que chegaram a somar 80, não chegando o espaço em casa para tanto saco com tiras. Houve necessidade de montar uma estrutura em madeira de forma a guardar os sacos por cima das suas cabeças, junto ao telhado. Teceu linho e estopa, mas o grosso do seu trabalho foram as mantas, chegando a contar 23 mantas feitas num só mês. Havia outro tear na aldeia que fazia cobertores de lã.
Chegaram a existir 7 rebanhos de ovelhas e 2 de cabras na aldeia, mas actualmente não há nenhum.
A igreja é muito bonita, a começar pelo frontispício em granito ricamente trabalhado, onde se destaca o nicho com uma imagem de S. Amaro. A sua torre sineira, quadrangular, com quatro sinos, rematada por uma cúpula, também é de granito. No interior é impossível não reparar nas pinturas do tecto e nalgumas imagens de grande dimensão bem como noutras muito antigas. O pavimento é em pedra tendo à vista as tradicionais divisões numeradas, para aí serem enterrados os fiéis. O tecto do corpo da igreja tem pintado o padroeiro, S. Amaro e nos cantos, os quatro Evangelistas. No tecto da capela-mor destacam-se os símbolos da Ordem de Malta (ou Hospitalários), na qual o concelho de Freixiel se encontrava incluído.
O padroeiro ocupa o ponto mais alto do altar-mor, ao centro. No lugar normalmente dedicado ao padroeiro, à direita do altar, está a imagem de S. José.
As imagens que se destacam pelo seu tamanho são a do Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora das Dores e a do Senhor dos Passos. Esta última, tem dobradiças nos membros que lhe permitem adoptar uma postura no altar e outra no seu próprio andor, onde se apresenta de joelhos e com a cruz aos ombros. Nossa Senhora das Dores não apresenta as tradicionais 7 lanças no peito, mas elas existem. Uma das mais preciosas imagens presentes é uma que representa S. Roque, que se encontra na sacristia. Nossa Senhora de Fátima está representada por várias imagens.
É possível que este templo não seja o inicial. A corroborar esta ideia está o facto de, sobre a porta da sacristia estar grava a data de 1711, na porta do frontispício a de 1779, data em que a igreja terá sido construída. No arco da capela-mor está a data de 1834. Indica o ano em que foi pintado. Esta data faz também parte de uma inscrição pintada no tecto, no coro, fazendo alusão a obras, possivelmente pintura. Para completar este conjunto de datas, junto à porta lateral do adro está gravado o ano de 1951.
Os altares não têm todos a mesma antiguidade. Os do Sagrado Coração de Jesus, Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores, foram feitos mais tarde, obrigando a tapar algumas janelas a fim de se aproveitar o espaço para a sua montagem. Foram pintados em 1874.

Continua aqui - À Descoberta de Pereiros 3/3

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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Carrazeda de Ansiães a 12/03/2010 12:10:00 AM