sexta-feira, 27 de novembro de 2015

[A Linha é Tua] Respostas a algumas questões


Resposta a algumas questões que me chegaram via formulário da página no Facebook - A Linha é TUA.

- É preferível fazer a caminhada de Fiolhal para Brunheda ou de Brunheda para o Fiolhal?
São múltiplos os fatores que podem influenciar a escolha mas há alguns que me levam a preferir começar a caminhada em Fiolhal: a caminhada é bastante longa e pode tornar-se cansativa; tira-se muito mais prazer (e fotografias) nos primeiros quilómetros e o entusiasmo vai diminuindo; o percurso da Linha ao Fiolhal é muito esgotante para final da caminhada, principalmente se fizer calor:

- É necessário fazer todo o percurso entre Fiolhal e Brunheda ou podemos desistir noutro apeadeiro?
Entre Fiolhal e Brunheda o único acesso por carro ligeiro à linha é em S. Lourenço (ao 16.ºKm). Desistir em Tralhariz, Castanheiro ou Tralhão obrigaria a uma íngreme longa e caminhada até se ter acesso a uma estrada.

- Há algum taxista que possa ser contactado em caso de emergência?
 O serviço de táxi da Linha do Tua pode ser contactado através do n.º 917534718. Normalmente, existem 2 serviços, um pela manhã e outro ao final do dia.
Número de outros táxis (Carrazeda de Ansiães) 278 617351 / 964054167 / 966796765.

- Qual é o troço da Linha mais bonito?
Gostos não se discutem. A linha é muito diferente desde Foz-Tua a Mirandela e depende muito das estações do ano e do estado do tempo. Pela paisagem única, recomendo a parte que se calcula que venha a ficar submersa Fiolhal – S. Lourenço (16km). Para Caminhadas mais curtas Brunheda- Abreiro (9 Km) ou mesmo Abreiro-Ribeirinha (3,5 km).

- Quais os cuidados a ter nas caminhadas?
Caminhar em locais isolados de difícil acesso deve ser feito de forma muito cautelosa e nunca por pessoas isoladas. Não são necessárias lanternas para passar os túneis, e as pontes e viadutos são de pouca altitude (mas mesmo assim há pessoas que sentem fobia). O maior perigo é o de entorses ou quedas. Caminhar sobre a gavinha não é muito agradável e fazê-lo sobre as travessas também não. As travessas quando molhadas tornam-se muito escorregadias. São aconselhadas botas fortes e confortáveis. Em tempo quente é necessário transportar muita água. Os poucos pontos de água existentes vão-se perdendo e é melhor nem contar com eles.

--
Publicada por Blogger às A Linha é Tua a 11/27/2015 09:33:00 da tarde

terça-feira, 10 de novembro de 2015

[À Descoberta de Vila Flor] Deixa falar o silêncio

Foi para ti, quenquer que sejas, que se aformoseou este recinto.
Superaste até o atingires, o cansaço da subida.
Convido-te a um instante de recolhimento.
Bem mereces uma pausa de harmonia interior.
Não procures palavras, deixa falar o silêncio.
João de Sá

Completou-se mais um aniversário do nascimento do grande poeta vilaflorense João de Sá. Para lembrar a data subi ao miradouro. Deliciei-me com as suas palavras e com a paisagem vibrante numa hora de sol num dia de nevoeiro.
Vaguei pelas capelinhas e senti que João de Sá estava lá, no coloridos das folhas, nas gotas do orvalho da manhã, nos cogumelos que crescem no humus e no melro azul que guarda os rochedos. Quantas poemas João de Sá terá recitado a esta ave solitária?
Deixei que o vento me sussurrasse alguns versos ao ouvido e prometi voltar mais vezes para lhe fazer alguma companhia.

--
Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 11/07/2015 02:00:00 da tarde

domingo, 18 de outubro de 2015

[À Descoberta de Carrazeda de Ansiães] XX Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite

Quem acompanha, ou acompanhava, este Blogue deve ter pensado que desertei, ou então que me chateei com as pessoas do concelho, uma vez que não digo nada de novo há mais de um ano. Infelizmente apenas ouvimos falar de Carrazeda na comunicação social quando algo de muito grave acontece e isso tem sido demasiado frequente.
Após um período de tempo em que fiz muitas visitas, reportagens e fotografias seguiu-se outro de maior afastamento fruto de algum desencanto, desilusão, de que nem todos são culpados, eu sei, mas a vida é assim cheia de períodos altos e baixos.
 Depois deste desabafo, pretendo mostrar um pouco do que encontrei em Carrazeda de Ansiães por altura da XX Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite.
Este ano reservei uns dias para passar em Carrazeda e desta forma acompanhar o certame de mais perto. Fiz algum esforço para estar na abertura oficial, pois queria ver tudo em primeira mão. O espaço ocupado pelos expositores tem variado e não sabia com o que podia contar este ano. O mercado foi destruído, houve que criar uma alternativa.
A abertura, solene, contou com a presença do Sr. Secretário de Estado do Desporto e da Juventude, Dr. Emídio Guerreiro, com corte de fita, muitas fotografias e a presença da banda da Associação Filarmónica Vilarinhense.
A afluência deve ter sido muita, porque, mal entrei, pedi um programa do evento no secretariado, mas já não havia!
 À primeira volta pelo recinto da feira senti alguma desilusão. Muitos dos Stands estavam encerrados e não os vi abertos nem nessa noite nem no dia seguinte. Passei algum tempo a apreciar (e comprar) com calma alguns dos produtos mais genuínos do concelho. Perguntei de onde eram os vendedores, porque me interessava saber quantos e quais eram originários do concelho de Carrazeda. Fiquei com ideia de que a maçã e o vinho estavam bem representados, dos restantes produtos havia um pouco da região, sem que daí advenha nada de mal. O pior é mesmo marcar um espaço e não o abrir.
Parece-me que ainda há muito para melhorar no que respeita à comercialização de produtos tradicionais. Há tanta coisa boa que se faz no concelho e que podia estar presente, Interroguei-me se estavam ausentes por desinteresse em vender ou se seria por qualquer outra razão.
Também há excepções e gostei de conversar com responsáveis da Cozinha Regional, jovens produtores de fumeiro, a quem comprei o necessário para um bom jantar, cheio de sabores tradicionais.
 As atenções desviaram-se da Feira para a inauguração do Estádio Municipal de Futebol de Carrazeda de Ansiães. Gente da política não faltou e, felizmente, jovens também não. Houve discursos, bênção e bolo comemorativo, porque cerimónias destas não acontecem todos os dias. No local pude rever pessoas que não via há imenso tempo e, também por isso, já valeu a pena ir ao estádio.
Há noite houve animação musical com a banda Função Públika. Muitos efeitos luminosos (demasiados), muitas acrobatas penduradas no palco, cenário variados e música de qualidade, não vi foi pessoas a dançarem! Eu que até nem gosto muito de música pimba senti saudades dos ritmos bem portugueses (afinal é em Portugal que nós estamos).

--
Publicada por Blogger às À Descoberta de Carrazeda de Ansiães a 10/18/2015 10:21:00 da tarde

sábado, 17 de outubro de 2015

[À Descoberta de S. João da Pesqueira] À Descoberta de S. João da Pesqueira

S. João da Pesqueira é uma vila, sede de concelho, que fica "ao lado" de onde nasci e onde continuo a fazer a minha vida, entre idas e vindas, ditadas pela necessidade de lutar pela vida. Apesar da proximidade, há um vale profundo "que nos separa", onde corre um rio que apaixona e que atrai gente de todos os cantos do mundo para apreciarem as vistas, os sabores e nem tanto as pessoas maravilhosas que aqui habitam.
S. João da Pesqueira foi local de passagem, em deslocações à Régua, a Lamego e a outras localidades. As poucas paragens que fiz não me afastaram muito da estrada nacional, não me permitindo uma imagem concreta da vila. Já das paisagens, dos vinhedos principalmente, guardo memória de imagens deslumbrantes, com vistas para o Douro de cortar a respiração, que fazem deste concelho um excelente ponto de referencia no que respeita ao Douro Património da Humanidade.
Um dos principais acontecimentos na vila é festa/feira Vindouro que teve este ano a 12.ª edição. Este ano aproveitei a festa, motivado também pelo convite que recebi da parte de do amigo Fernando Peneiras, fotógrafo amador com quem me cruzo com muita frequência, para conhecer melhor a vila e em parte, o concelho.
Inscrevi-me no 2.º Raid Fotográfico Alto Douro Vinhateiro - Vindouro - Festa Pombalina. Confesso que as festas, as feiras, os grupos, não são a minha forma preferida de Descobrir uma vila, ou um concelho, mas estas realizações permitem ter contacto com realidades que se encontram dispersas no dia a dia, ou que só acontecem nestes eventos. Têm o contra de que a quantidade de pessoas impede  a intimidade, a apropriação da atmosfera dos locais e o registo fotográfico limpo, tranquilo, pensado.
Desci para a Valeira acompanhado de um colega "fotógrafo", ou entusiasta da aventura como eu, mas encontrámos muitos mais, vindos dos confins dos distritos de Bragança, de Vila Real ou Viseu. A paixão de fotografar é uma excelente ponte entre pessoas.
O mata-bicho aconteceu no Parque das Devesas. Este espaço era-me completamente desconhecido, estava À Descoberta de S. João da Pesqueira. O queijo, muito bom, era de Trancoso, mas o presunto foi o produto estrela, não desfazendo de um pastel a quem dão o nome de "espiga", também muito saboroso. No vinho, certamente produto de excelência, poucos tocaram. Apesar de nenhum de nós ir conduzir, uma vez que nos íamos deslocar num autocarro da autarquia, ninguém queria que as fotografias ficassem "tremidas", até porque há toda uma reputação a defender.
A primeira paragem do Raid aconteceu no miradouro Frei Estevão. Toda esta estrada proporciona paisagens fantásticas mas é estreita e é perigoso parar fora dos miradouros preparados. É sem dúvida, um local de referência e vale sempre a pena uma paragem. Avista-se o rio Douro, o Pinhão e um conjunto de vinhedos e quintas no termo do concelho de S. João da Pesqueira.
Uma paragem foi suficiente para baralhar todo o programa do Raid, mas ninguém se sentiu incomodado por isso, o importante era visitar pontos estratégicos.
A segunda paragem aconteceu na adega da Quinta do Cadão. Esta empresa foi uma das patrocinadoras do Raid e uma visita a uma estrutura desta natureza era "obrigatória" para se conhecer o concelho. Fomos muito bem recebidos, com uma visita guiada seguida de prova dos bons vinhos que a empresa produz. Se investigarmos um pouco ficamos a saber que o grupo trabalha com boas quintas e tem arrecadado prémios para os seus vinhos Cadão, Clama e Cabeço do Pote. Interessante foi o convívio em redor da prova de vinhos, onde também podemos saborear um bom pão, queijo e chouriço.

Seguimos para a capela de Nossa Senhora das Neves. Insisti para que fossemos ao miradouro de Nossa Senhora de Lurdes, em Nagoselo do Douro, mas por dificuldade de acesso de autocarro acabamos por não seguir em frente. Nunca tinha estado em nenhum dos locais, mas quando me desloco pelo concelho de Carrazeda de Ansiães olho para ao alto do monte e digo para mim mesmo - Um dia vou subir ali.
O alto da capela de Nossa Senhora das Neves também é um excelente miradouro. Felizmente não faltavam conhecedores destas terras, para nos mostrar todos os pontos de referência abrangendo vários concelhos.
De regresso a S. João da Pesqueira atravessámos parte da vila a pé, enquanto esperávamos pelo almoço, servido na Escola Profissional Esprodouro. A ementa teve como prato principal algo bem tradicional: arroz de feijão vermelho com pataniscas de bacalhau. A simpatia não é coisa que recorde da recepção, mas deve ter-se devido ao excesso de trabalho.
Depois de um café no quartel dos bombeiros partimos para mais uma visita, desta vez ao miradouro de S. Salvador do Mundo. Este é um dos poucos pedaços do concelho que eu já conhecia, mas nunca é demais visitar um lugar tão grandioso de fé, história e horizontes largos.
Num lugar assim sentimos que somos pequenos, face à imensidão que a nossa vista alcança. Mas, um olhar atento à margem oposta do Douro, levamos a pensar no espírito lutador destas gentes, capazes de arrancar o sustento onde mais nada parece haver senão o duro granito, que até o rio cortou a custo. Só a barragem da Valeira veio amansar a eterna guerra entre o rio e a rochas, que também levou algumas vidas humanas.
Não faltam motivos de interesse neste miradouro. Começando pela origem remota da ocupação do morra, continuando pela história do surgimento e multiplicação das várias capelinhas e terminando na observação do vale escavado, de águas azuis, ou verdes, onde passam constantemente barcos repletos de turistas, ou mesmo procurando o traçado da Linha do Douro que parece penetrar nas entranhas da terra e delas saindo para atravessar o Douro na Ferradosa, local também previsto no itinerário do passeio, mas impossível de concretizar por escassez de tempo.
Fui dos últimos a abandonar o miradouro. Já o autocarro se fartava de buzinar, denunciando o atraso, mas cada caminho, cada vereda, cada rocha, proporcionava um ângulo novo, um espectáculo de natureza.
Seguimos para a vila orientados para uma visita ao Museu do Vinho. Depois de um "banho" de natureza, não reagi muito bem ao ambiente que se vivia na vila. Havia muita gente no museu e muitas marcas de vinho para provar. É, sem dúvida um edifício interessante, e caro, segundo me disseram, que merece uma visita, mas tem que ser feita com calma, num dia de menor afluência.
Pela vila procurei os produtos típicos do concelho e da região, desde o fumeiro, queijo, doçaria, etc. até ao artesanato, vinhos e pão. As barraquinhas estavam bastante dispersas e não consegui encontrar uma organização lógica.
Percorri as ruas, visitei o Salão de Exposições e terminei o passeio na Praça da República. É um espaço fantástico, coração do centro histórico da vila. Não faltam elementos de interesse; a capela da Misericórdia, o Arco, a torre do relógio, a arcada ou o edifico dos antigos passos do concelho e a cadeia.
Deste espaço estava a ser transmitido o programa Verão Total, a chegar a todo o país via RTP. Distrai-me a provar algumas iguarias nas bancas circundantes e quando me apercebi estava para chegar o Desfile Pombalino, um dos momentos mais altos destes festejos.
As pessoas eram muitas e entre cotoveladas dos colegas fotógrafos (éramos mais de 30!), dos operadores de câmara da RTP e do muito publico que enchia a praça, tentei captar algumas imagens do momento. Tenho a certeza que sem o chamariz do Verão Total o movimento seria muito menor e daria para acompanhar melhor a pequena representação teatral que aconteceu na praça. Ou pelo menos devia ter acontecido, porque estes programas de televisão "ligue já" não gostam de perder muito tempo a mostrar as localidades que visitam.
Para terminar o dia em ouro pude fazer um passeio de charrete, puxada por dois garbosos cavalos negros saídos da cena de qualquer filme.
A animação continuou pelas ruas e para a noite estava agendada a presença de Rita Guerra, voz e pessoa que aprecio bastante. Com fim de tarde a acontecer e algum caminho para "andar", foi a altura da despedida dos colegas que me acompanharam a longo do dia, um dia marcante, À Descoberta do Concelho de S. João da Pesqueira.
Só me resta agradecer ao amigo Fernando Peneiras pelo excelente acolhimento que nos fez e pelo Raid que preparou para nós e ao meu colega Helder Magueta que me acompanhou.
Este foi, sem dúvida, um passeio pela Pesqueira que servirá de incentivo a muitos regressos.




--
Publicada por Blogger às À Descoberta de S. João da Pesqueira a 10/17/2015 12:26:00 da tarde

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

[À Descoberta de Sabrosa] Descobrir Sabrosa

Já há algum tempo que andava com vontade de conhecer pessoalmente o concelho de Sabrosa. O projeto é antigo, o tempo é finito, e Trás-os-Montes Alto Douro estão cheios de locais bonitos, vilas e aldeias que vale a pena conhecer, tradições que dá gosto reviver e petiscos que apetece provar.
O desafio do Douro foi o ponto forte que finalmente me convenceu a conhecer o concelho de Sabrosa. Programei um passeio por vários concelhos a norte do rio Douro, para percorrer num dia, com a família. O passeio acabou por ser mais curto do que o previsto, mas, isso deveu-se a ficarmos "retidos" praticamente no concelho de Sabrosa, não sobrando tempo para mais nenhum.
Começo por dizer que este concelho era-me totalmente desconhecido. Nunca tinha estado na sede de concelho e muito menos em qualquer das aldeias que o compõe. Sempre que cruzava com  uma placa a dizer Sabrosa, num dos concelhos vizinhos, dizia para mim: - Tenho que ir descobrir Sabrosa.
Como quase sempre faço, tracei o percurso no mapa, na Internet. Em linhas gerais entraria no concelho pela estrada CM1337 e sairia pela N322 em direção a São Cibrão, depois de passar pela vila de Sabrosa.
Escolhi esta época do ano na esperança de encontrar os vinhedos pintados de cores quentes, típicas do outono, mas cedo me apercebi que ainda era bastante cedo.
A forma geográfica do concelho é bastante curiosa. Também o recorte, no que toca à fronteira com o vizinho concelho de Alijó chama à atenção. Prece-me que essa fronteira muito recortada se deve ao rio Pinhão, que encontrou o seu caminho há milhares de anos, pelos locais mais profundos das serras, que se elevam acima dos 700-800 metros de altitude. Cheguei vindo de Cheires. Talvez não seja a melhor estrada, mas nunca procuro a melhor estrada, nem a mais rápida, uma vez que o meu objetivo não é chegar rápido, ou com conforto, mas sim conhecer.
Estava um lindo dia de sol, diria até muito quente, uma vez que o suor não deixou de me cair da testa durante todo o dia. As vindimas estão praticamente no começo e ouviam-se ao longe grupos de vindimadores nas encostas. Na berma da estrada há muitos medronheiros, mas os medronhos são poucos. O vinhedos da Quinta dos Corvos permitiram algumas boas fotografias, mas a estrada não tinha muitos locais para se parar com segurança, por isso cheguei rapidamente a Sabrosa.
 Tudo era novo e por isso havia muito para explorar. A estrada nacional ou a Avenida dos Soldados da Grande Guerra separa duas parte distintas da vila: uma mais nova, com escolas, outros serviços e residências, outra mais antiga, com casas brasonadas, câmara, igreja e bastante comércio. A torre da igreja é sempre um bom ponto de referência para quem não conhece uma localidade e, normalmente, assinala o núcleo urbano mais antigo. Estacionámos o carro na avenida, talvez menos movimentada por ser sábado, e seguimos a pé pela rua Coronel Jaime Neves. As casas senhoriais são vistosas, mas há outros elementos dignos de interesse para um olhar atento. Encontrámos algumas janelas manuelinas, trabalhos em ferro, humildes casas com varandas tradicionais, etc.
Sabrosa foi onde nasceu o navegador Fernão de Magalhães e esse facto é lembrado a cada esquina da vila. Em frente ao edifício da Câmara Municipal há um monumento de António Quina, que evoca os sonhos de navegar do jovem Fernão de Magalhães que haveria de conseguir a primeira circum-navegação do globo no séc. XVI.
Aproveitámos para visitar a exposição de pintura "Douro: poesia pintada" patente no Auditório Municipal. Belos quadros sobre a região! A exposição merece uma visita.
Quase sem darmos conta o tempo passou e o sino da igreja marcou a horas, Eram horas de almoço! Estava no plano almoçarmos em Peso da Régua! Procurámos um restaurante por perto e almoçámos em Sabrosa. Comemos bem e pagámos uma quantia que nos pareceu justa. Satisfeitos, deixámos gorjeta. Para primeira experiência foi bem positiva. Fiquei a pensar quais serão os pratos tradicionais do concelho.
Enquanto esperávamos para ser servidos fiz a revisão do plano da viagem. O restaurante tinha Internet gratuita, o que veio a calhar.
Em Celeirós do Douro havia a lagarada tradicional. Para estar em Celeirós à hora da lagarada haveria que desistir de tudo o que estava planeado. Como o "programa" já estava mesmo atrasado mais de 2 horas, o melhor foi mesmo esquecê-lo e fazer outro.
Planeei uma volta quase completa ao concelho. Tirando a parte situada mais a norte, poderíamos percorrer todo o concelho e foi isso que fizemos, começando por S. Martinho de Anta, berço de Miguel Torga. Foi uma visita rápida praticamente de reconhecimento, para um dia mais tarde voltarmos. Partimos para sul, em direção ao Douro.
O nosso objetivo primordial eram as vinhas e elas não apareceram logo em quantidade e "qualidade" de imagem, intenda-se, mas à medida que íamos descendo para sul o cenário foi-se alindando.  As vinhas acabaram por surgir, ainda repletas de cachos de uvas, em socalcos com desenhos que tornam esta paisagem única.
À passagem por Gouvinhas vimos lá no alto uma das etapas que pretendíamos fazer inicialmente, S. Leonardo de Galafura, mas a paisagem era tão bela que não nos arrependemos das alterações de percurso.
No fundo do vale outro rio segue serpenteando, também ele marcando os limites do concelho, é o rio Ceira. Por esta altura já as paragens na berma da estrada eram constantes, porque a paisagem era deslumbrante e já se avistava o Douro, que surgiu timidamente mas se mostrou depois majestoso.
As quintas suceden-se qual delas a mais vistosa: Quinta do Crasto, nome que sugere a existência de um castro no alto do monte, Quinta Nova, Quinta da Água de Alta, etc.
O calor era intenso quando chegámos perto de Ferrão, onde se inverteria o percurso passando a ascendente.
Quase escondido entre montanhas de pinho surge Covas do Douro. Pensei que não conseguíamos seguir em frente, mas com jeito partimos do Largo da Fonte rumo a Gouvães do Douro. Atravessar a aldeia é um pouco assustador, mas se o é para quem vai de carro, para os habitantes que têm que lidar com os automóveis que por ali passam também não deve ser fácil.
Chegados ao alto da rua da Benjoca(!)  tudo retomou a normalidade (pelo menos até chegarmos a localidade seguinte). Em Gouvães do Douro as ruas também não são muito largas e foi grande a surpresa quando demos com um pelourinho no centro da aldeia. Foi sede concelho entre os séc. XII e XIX! Custa a crer que uma aldeia com pouco mais de 100 habitantes tenha tido uma tão grande história, mas é verdade.
A paragem seguinte aconteceu em Provesende. Mesmo sem saber a sua localização o nome não me era completamente desconhecido. O Facebook, apesar de muitas críticas a apontar, também vai dando a conhecer estes e outros locais a pessoas distantes, que nunca os foram conhecer, nem irão. Como tenho muitos "amigos" e acompanho milhares de páginas da região vou sabendo de coisas que vão acontecendo um pouco por todo o distrito de Bragança e de Vila Real.
Provesende foi a cereja no topo do bolo deste passeio. Ninguém deve estranhar se disser que adorei descobrir esta localidade. Também esta aldeia foi sede de concelho e tem ainda bem conservado o Pelourinho. Gostei de ver o esmero com que as pessoas cuidam das casas, mantêm as ruas limpas, cuidam dos espaços e sabem acolher quem os visita. Despendemos bastante do nosso tempo a percorrer as ruas da aldeia a pé. Foi muito agradável.
Já com a tarde a chegar ao fim rumámos àquele que seria a última paragem do nosso percurso, Celeirós do Douro. Não estava à espera de uma festa tão grande, nem de tanta alegria e entusiasmo. Fez-me recordar um passeio recente a Mondim de Basto, talvez pelos grupos de concertinas, pela forma como as pessoas comem, bebem, cantam e dançam. Manifestam uma alegria genuína que não encontro com muita frequência.
Aproveitei os últimos raios de sol para fazer um passeio por algumas ruas da aldeia. Havia muitas barraquinhas, que vendiam os mais variados produtos, desde bonitas esculturas em madeira ao pão, tão necessário para acompanhar o vinho que também circulava.
Os lagares, inicialmente calmos, tornaram-se o palco da tão entusiástica lagarada. Crianças e adultos saltaram para o lagar e "pisaram" as uvas com grande entusiasmo. Uns pisavam, outros dançavam, cantavam, ensaiavam jogos de roda, bebiam ou tentavam afastar os mosquitos que também se sentiam atraídos pela doçura. As concertinas não se calavam e o enorme espaço dos lagares era pequeno para tanto entusiasmo. Não consegui libertar-me o suficiente para me descalçar, entrar no lagar e participar a 100% por cento da festa. Confesso que senti vontade.
Ao cair da noite, quando ainda a festa estava a aquecer, partimos para Sabrosa, a fim de regressarmos a casa. Ainda havia bastantes quilómetros para fazer e com o IC5 em obras, teria que somar mais alguns antes de chegar a casa.

--
Publicada por Blogger às À Descoberta de Sabrosa a 9/28/2015 01:04:00 da manhã

terça-feira, 22 de setembro de 2015

[À Descoberta de Vila Flor] e de repente é noite (XXXVII)

XXXVII
Não aceites a morte, mãe,
recusa-a em consonância
com o coração da terra.
sê a firmeza
daquela rocha lilás
onde o vento inutilmente
se esfacela.

XXXVIII
Outra vez o serão.
O piano perfurando
a densidade do tédio.
Estilhaços do temporal
da tarde
perseguindo o voltear
dos zilros.
Ah o perfume da serra
roendo-nos os zincos da alma.
É urgente uma jaula
de esquecimento
para este grito.

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Trabalho com base num jovem sobreiro fotografado em Benlhevai.


--
Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/22/2015 10:47:00 da tarde