Já há algum tempo que andava com vontade de conhecer pessoalmente o concelho de Sabrosa. O projeto é antigo, o tempo é finito, e Trás-os-Montes Alto Douro estão cheios de locais bonitos, vilas e aldeias que vale a pena conhecer, tradições que dá gosto reviver e petiscos que apetece provar.
O desafio do Douro foi o ponto forte que finalmente me convenceu a conhecer o concelho de Sabrosa. Programei um passeio por vários concelhos a norte do rio Douro, para percorrer num dia, com a família. O passeio acabou por ser mais curto do que o previsto, mas, isso deveu-se a ficarmos "retidos" praticamente no concelho de Sabrosa, não sobrando tempo para mais nenhum.
Começo por dizer que este concelho era-me totalmente desconhecido. Nunca tinha estado na sede de concelho e muito menos em qualquer das aldeias que o compõe. Sempre que cruzava com uma placa a dizer Sabrosa, num dos concelhos vizinhos, dizia para mim: - Tenho que ir descobrir Sabrosa.
Como quase sempre faço, tracei o percurso no mapa, na Internet. Em linhas gerais entraria no concelho pela estrada CM1337 e sairia pela N322 em direção a São Cibrão, depois de passar pela vila de Sabrosa.
Escolhi esta época do ano na esperança de encontrar os vinhedos pintados de cores quentes, típicas do outono, mas cedo me apercebi que ainda era bastante cedo.
A forma geográfica do concelho é bastante curiosa. Também o recorte, no que toca à fronteira com o vizinho concelho de Alijó chama à atenção. Prece-me que essa fronteira muito recortada se deve ao rio Pinhão, que encontrou o seu caminho há milhares de anos, pelos locais mais profundos das serras, que se elevam acima dos 700-800 metros de altitude. Cheguei vindo de Cheires. Talvez não seja a melhor estrada, mas nunca procuro a melhor estrada, nem a mais rápida, uma vez que o meu objetivo não é chegar rápido, ou com conforto, mas sim conhecer.
Estava um lindo dia de sol, diria até muito quente, uma vez que o suor não deixou de me cair da testa durante todo o dia. As vindimas estão praticamente no começo e ouviam-se ao longe grupos de vindimadores nas encostas. Na berma da estrada há muitos medronheiros, mas os medronhos são poucos. O vinhedos da Quinta dos Corvos permitiram algumas boas fotografias, mas a estrada não tinha muitos locais para se parar com segurança, por isso cheguei rapidamente a Sabrosa.
Tudo era novo e por isso havia muito para explorar. A estrada nacional ou a Avenida dos Soldados da Grande Guerra separa duas parte distintas da vila: uma mais nova, com escolas, outros serviços e residências, outra mais antiga, com casas brasonadas, câmara, igreja e bastante comércio. A torre da igreja é sempre um bom ponto de referência para quem não conhece uma localidade e, normalmente, assinala o núcleo urbano mais antigo. Estacionámos o carro na avenida, talvez menos movimentada por ser sábado, e seguimos a pé pela rua Coronel Jaime Neves. As casas senhoriais são vistosas, mas há outros elementos dignos de interesse para um olhar atento. Encontrámos algumas janelas manuelinas, trabalhos em ferro, humildes casas com varandas tradicionais, etc.
Sabrosa foi onde nasceu o navegador Fernão de Magalhães e esse facto é lembrado a cada esquina da vila. Em frente ao edifício da Câmara Municipal há um monumento de António Quina, que evoca os sonhos de navegar do jovem Fernão de Magalhães que haveria de conseguir a primeira circum-navegação do globo no séc. XVI.
Aproveitámos para visitar a exposição de pintura "Douro: poesia pintada" patente no Auditório Municipal. Belos quadros sobre a região! A exposição merece uma visita.
Quase sem darmos conta o tempo passou e o sino da igreja marcou a horas, Eram horas de almoço! Estava no plano almoçarmos em Peso da Régua! Procurámos um restaurante por perto e almoçámos em Sabrosa. Comemos bem e pagámos uma quantia que nos pareceu justa. Satisfeitos, deixámos gorjeta. Para primeira experiência foi bem positiva. Fiquei a pensar quais serão os pratos tradicionais do concelho.
Enquanto esperávamos para ser servidos fiz a revisão do plano da viagem. O restaurante tinha Internet gratuita, o que veio a calhar.
Em Celeirós do Douro havia a lagarada tradicional. Para estar em Celeirós à hora da lagarada haveria que desistir de tudo o que estava planeado. Como o "programa" já estava mesmo atrasado mais de 2 horas, o melhor foi mesmo esquecê-lo e fazer outro.
Planeei uma volta quase completa ao concelho. Tirando a parte situada mais a norte, poderíamos percorrer todo o concelho e foi isso que fizemos, começando por S. Martinho de Anta, berço de Miguel Torga. Foi uma visita rápida praticamente de reconhecimento, para um dia mais tarde voltarmos. Partimos para sul, em direção ao Douro.
O nosso objetivo primordial eram as vinhas e elas não apareceram logo em quantidade e "qualidade" de imagem, intenda-se, mas à medida que íamos descendo para sul o cenário foi-se alindando. As vinhas acabaram por surgir, ainda repletas de cachos de uvas, em socalcos com desenhos que tornam esta paisagem única.
À passagem por Gouvinhas vimos lá no alto uma das etapas que pretendíamos fazer inicialmente, S. Leonardo de Galafura, mas a paisagem era tão bela que não nos arrependemos das alterações de percurso.
No fundo do vale outro rio segue serpenteando, também ele marcando os limites do concelho, é o rio Ceira. Por esta altura já as paragens na berma da estrada eram constantes, porque a paisagem era deslumbrante e já se avistava o Douro, que surgiu timidamente mas se mostrou depois majestoso.
As quintas suceden-se qual delas a mais vistosa: Quinta do Crasto, nome que sugere a existência de um castro no alto do monte, Quinta Nova, Quinta da Água de Alta, etc.
O calor era intenso quando chegámos perto de Ferrão, onde se inverteria o percurso passando a ascendente.
Quase escondido entre montanhas de pinho surge Covas do Douro. Pensei que não conseguíamos seguir em frente, mas com jeito partimos do Largo da Fonte rumo a Gouvães do Douro. Atravessar a aldeia é um pouco assustador, mas se o é para quem vai de carro, para os habitantes que têm que lidar com os automóveis que por ali passam também não deve ser fácil.
Chegados ao alto da rua da Benjoca(!) tudo retomou a normalidade (pelo menos até chegarmos a localidade seguinte). Em Gouvães do Douro as ruas também não são muito largas e foi grande a surpresa quando demos com um pelourinho no centro da aldeia. Foi sede concelho entre os séc. XII e XIX! Custa a crer que uma aldeia com pouco mais de 100 habitantes tenha tido uma tão grande história, mas é verdade.
A paragem seguinte aconteceu em Provesende. Mesmo sem saber a sua localização o nome não me era completamente desconhecido. O Facebook, apesar de muitas críticas a apontar, também vai dando a conhecer estes e outros locais a pessoas distantes, que nunca os foram conhecer, nem irão. Como tenho muitos "amigos" e acompanho milhares de páginas da região vou sabendo de coisas que vão acontecendo um pouco por todo o distrito de Bragança e de Vila Real.
Provesende foi a cereja no topo do bolo deste passeio. Ninguém deve estranhar se disser que adorei descobrir esta localidade. Também esta aldeia foi sede de concelho e tem ainda bem conservado o Pelourinho. Gostei de ver o esmero com que as pessoas cuidam das casas, mantêm as ruas limpas, cuidam dos espaços e sabem acolher quem os visita. Despendemos bastante do nosso tempo a percorrer as ruas da aldeia a pé. Foi muito agradável.
Já com a tarde a chegar ao fim rumámos àquele que seria a última paragem do nosso percurso, Celeirós do Douro. Não estava à espera de uma festa tão grande, nem de tanta alegria e entusiasmo. Fez-me recordar um passeio recente a Mondim de Basto, talvez pelos grupos de concertinas, pela forma como as pessoas comem, bebem, cantam e dançam. Manifestam uma alegria genuína que não encontro com muita frequência.
Aproveitei os últimos raios de sol para fazer um passeio por algumas ruas da aldeia. Havia muitas barraquinhas, que vendiam os mais variados produtos, desde bonitas esculturas em madeira ao pão, tão necessário para acompanhar o vinho que também circulava.
Os lagares, inicialmente calmos, tornaram-se o palco da tão entusiástica lagarada. Crianças e adultos saltaram para o lagar e "pisaram" as uvas com grande entusiasmo. Uns pisavam, outros dançavam, cantavam, ensaiavam jogos de roda, bebiam ou tentavam afastar os mosquitos que também se sentiam atraídos pela doçura. As concertinas não se calavam e o enorme espaço dos lagares era pequeno para tanto entusiasmo. Não consegui libertar-me o suficiente para me descalçar, entrar no lagar e participar a 100% por cento da festa. Confesso que senti vontade.
Ao cair da noite, quando ainda a festa estava a aquecer, partimos para Sabrosa, a fim de regressarmos a casa. Ainda havia bastantes quilómetros para fazer e com o IC5 em obras, teria que somar mais alguns antes de chegar a casa.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Sabrosa a 9/28/2015 01:04:00 da manhã
Concelho:
Carrazeda de Ansiães | Vila Flor | Miranda do Douro | Mogadouro | Torre de Moncorvo | Freixo de E.C. | Alfândega da Fé | |
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
terça-feira, 22 de setembro de 2015
[À Descoberta de Vila Flor] e de repente é noite (XXXVII)
XXXVII
Não aceites a morte, mãe,
recusa-a em consonância
com o coração da terra.
sê a firmeza
daquela rocha lilás
onde o vento inutilmente
se esfacela.
XXXVIII
Outra vez o serão.
O piano perfurando
a densidade do tédio.
Estilhaços do temporal
da tarde
perseguindo o voltear
dos zilros.
Ah o perfume da serra
roendo-nos os zincos da alma.
É urgente uma jaula
de esquecimento
para este grito.
--
Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/22/2015 10:47:00 da tarde
Não aceites a morte, mãe,
recusa-a em consonância
com o coração da terra.
sê a firmeza
daquela rocha lilás
onde o vento inutilmente
se esfacela.
XXXVIII
Outra vez o serão.
O piano perfurando
a densidade do tédio.
Estilhaços do temporal
da tarde
perseguindo o voltear
dos zilros.
Ah o perfume da serra
roendo-nos os zincos da alma.
É urgente uma jaula
de esquecimento
para este grito.
Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Trabalho com base num jovem sobreiro fotografado em Benlhevai.
Fotografia: Trabalho com base num jovem sobreiro fotografado em Benlhevai.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/22/2015 10:47:00 da tarde
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
[À Descoberta de Vila Flor] e de repente é noite (XLVIII)
O tempo pousa-me nos dedos,
sugerindo aquele esbelto pássaro,
à tarde, hirto em tuas espáduas nuas.
Uma maré de crisântemos ritma
a tua impaciência em desejares
que seja no teu peito
que os braços se encontrem com o mar.
Em Março, no adro da capela, minhas tristezas
florescem acácias amarelas
e perpetuam-se na vibração dos sinos.
Um estranho toque
vem despertar setembros
de cachos de uvas suspensos do tecto,
na frescura das salas,
listando o espaço de tons mansos
como quem tece casulos de calor
para vencer o inverno.
Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Cume do Facho, após um incêndio.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/18/2015 10:39:00 da tarde
sugerindo aquele esbelto pássaro,
à tarde, hirto em tuas espáduas nuas.
Uma maré de crisântemos ritma
a tua impaciência em desejares
que seja no teu peito
que os braços se encontrem com o mar.
Em Março, no adro da capela, minhas tristezas
florescem acácias amarelas
e perpetuam-se na vibração dos sinos.
Um estranho toque
vem despertar setembros
de cachos de uvas suspensos do tecto,
na frescura das salas,
listando o espaço de tons mansos
como quem tece casulos de calor
para vencer o inverno.
Fotografia: Cume do Facho, após um incêndio.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/18/2015 10:39:00 da tarde
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
[À Descoberta de Vila Flor] Reencontro com os caminhos
A análise das distâncias percorridas no ano mostram que caminhei muito pouco, pelo menos do concelho de Vila Flor. Por isso, nada como recomeçar com mais força, testando o físico. O trajecto escolhido foi um já muitas vezes percorrido: Vila Flor - Santa Cecília, com ida e volta por caminhos distintos. São cerca de 15 km, com algumas paragens para apreciar a paisagem, é percurso para uma manhã inteira.
Por sorte o dia estava bastante bom para caminhar. A manhã fresca mostrou um céu com algumas nuvens que se foram pintando de negro. Por várias vezes caíram pequenas gotas de chuva, refrescando o ar e fazendo-me recordar emoções de outras caminhadas.
Houve duas coisas que marcaram o passeio, uma boa e outra má. A boa foi a quantidade de frutos da época que permitiram algumas fotografias interessantes, a má foi o reencontro com bastante lixo espalhado pelos montes que mostra que muito mudou na vida das pessoas mas o civismo ainda está muito longe do desejável.
Os campos estão bastante despidos de verdura. O calor do verão matou todas as ervas e só as giestas e pinheiros se mantêm "vivos". Já nos terrenos agrícolas há muito para ver e fotografar: são as amêndoas prontas para serem apanhadas (muitas já o foram); as uvas estão maduras e este ano parece haver grande quantidade; há muitas pêras, maçãs, alguns pêssegos e figos a sustentarem bandos de estorninhos que parecem muito satisfeitos com a abundância. As silvas da bordas dos caminhos estão carregadas de amoras e nos castanheiros os ouriços começam a ganhar forma.
Apesar das ameaças de chuva, a paisagem estava muito bonita. O Cabeço, visível ao longo de metade da caminhada, por vezes iluminava-se parecendo um farol. De Samões avistava-se o vale de Freixiel, permitindo admirar a paisagem até mais longe, pelo concelho de Murça, Alijó, quem sabe até de Valpaços ou Vila Pouca de Aguiar.
Acompanhei de perto o traçado do IC5. Os carros passavam rápidos, apressados, fazendo-me sentir feliz, por poder andar devagar, saborear o vento e a chuva, sentir o chão, ouvir os sinos da igreja de Carvalho de Egas, sem mais preocupações do que a de chegar a casa entre o meio-dia e a uma, para não fazer a família esperar por mim para o almoço.
Fiz uma visita aos "mal casados". Para quem não sabe, são duas rochas de "costas" voltadas uma para a outra. Não sei se uma música romântica ajudaria a "quebrar o gelo", mas como ainda ninguém teve essa "brilhante" ideia, as rochas vão continuar de "costas" voltadas, merecendo plenamente o nome de "mal casados".
Num dos parques de estacionamento do santuário de Santa Cecília há uma pequena macieira, bravo de esmolfe, que costumo visitar nesta época do ano. Estava carregada de frutos, maduros, sumarentos, bastante maiores do que em anos anteriores. Não tive muito tempo para pausas, mas colhi algumas maçãs que fui mordendo ao longo do caminho.
Foi após deixar Santa Cecília para que encontrei alguns montes de lixo. Infelizmente o lixo vai aparecendo um pouco por todo lado. Um sofá, aqui, um televisor mais além, há um pouco de tudo e onde menos se espera. Mas havia carradas de lixo, muito vidro, coisas que não dignificam as pessoas e as instituições.
Cheguei à barragem do Peneireiro perto do meio-dia. Algumas pessoas faziam os seus exercícios de manutenção. O Parque de Campismo já tem poucos campistas. A barragem tem um nível incrivelmente baixo de água, No local já sente a calmaria típica da maior parte do ano. O verão é muito bom, e necessário, até economicamente, mas nós temos o privilégios de poder gozar estes espaço durante todo o resto do ano.
Caminhei sem parar até Vila Flor. Senti-me muito bem fisicamente. A pausa de verão e o aumento de peso não afetaram o meu gosto por caminhar. Senti-me livre, relaxado, satisfeito por fotografar de novo os montes que já tão bem conheço.
A caminhada teve perto de 15 km, uma distância aceitável para início de temporada.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/15/2015 12:01:00 da manhã
Por sorte o dia estava bastante bom para caminhar. A manhã fresca mostrou um céu com algumas nuvens que se foram pintando de negro. Por várias vezes caíram pequenas gotas de chuva, refrescando o ar e fazendo-me recordar emoções de outras caminhadas.
Houve duas coisas que marcaram o passeio, uma boa e outra má. A boa foi a quantidade de frutos da época que permitiram algumas fotografias interessantes, a má foi o reencontro com bastante lixo espalhado pelos montes que mostra que muito mudou na vida das pessoas mas o civismo ainda está muito longe do desejável.
Os campos estão bastante despidos de verdura. O calor do verão matou todas as ervas e só as giestas e pinheiros se mantêm "vivos". Já nos terrenos agrícolas há muito para ver e fotografar: são as amêndoas prontas para serem apanhadas (muitas já o foram); as uvas estão maduras e este ano parece haver grande quantidade; há muitas pêras, maçãs, alguns pêssegos e figos a sustentarem bandos de estorninhos que parecem muito satisfeitos com a abundância. As silvas da bordas dos caminhos estão carregadas de amoras e nos castanheiros os ouriços começam a ganhar forma.
Apesar das ameaças de chuva, a paisagem estava muito bonita. O Cabeço, visível ao longo de metade da caminhada, por vezes iluminava-se parecendo um farol. De Samões avistava-se o vale de Freixiel, permitindo admirar a paisagem até mais longe, pelo concelho de Murça, Alijó, quem sabe até de Valpaços ou Vila Pouca de Aguiar.
Acompanhei de perto o traçado do IC5. Os carros passavam rápidos, apressados, fazendo-me sentir feliz, por poder andar devagar, saborear o vento e a chuva, sentir o chão, ouvir os sinos da igreja de Carvalho de Egas, sem mais preocupações do que a de chegar a casa entre o meio-dia e a uma, para não fazer a família esperar por mim para o almoço.
Fiz uma visita aos "mal casados". Para quem não sabe, são duas rochas de "costas" voltadas uma para a outra. Não sei se uma música romântica ajudaria a "quebrar o gelo", mas como ainda ninguém teve essa "brilhante" ideia, as rochas vão continuar de "costas" voltadas, merecendo plenamente o nome de "mal casados".
Num dos parques de estacionamento do santuário de Santa Cecília há uma pequena macieira, bravo de esmolfe, que costumo visitar nesta época do ano. Estava carregada de frutos, maduros, sumarentos, bastante maiores do que em anos anteriores. Não tive muito tempo para pausas, mas colhi algumas maçãs que fui mordendo ao longo do caminho.
Foi após deixar Santa Cecília para que encontrei alguns montes de lixo. Infelizmente o lixo vai aparecendo um pouco por todo lado. Um sofá, aqui, um televisor mais além, há um pouco de tudo e onde menos se espera. Mas havia carradas de lixo, muito vidro, coisas que não dignificam as pessoas e as instituições.
Cheguei à barragem do Peneireiro perto do meio-dia. Algumas pessoas faziam os seus exercícios de manutenção. O Parque de Campismo já tem poucos campistas. A barragem tem um nível incrivelmente baixo de água, No local já sente a calmaria típica da maior parte do ano. O verão é muito bom, e necessário, até economicamente, mas nós temos o privilégios de poder gozar estes espaço durante todo o resto do ano.
Caminhei sem parar até Vila Flor. Senti-me muito bem fisicamente. A pausa de verão e o aumento de peso não afetaram o meu gosto por caminhar. Senti-me livre, relaxado, satisfeito por fotografar de novo os montes que já tão bem conheço.
A caminhada teve perto de 15 km, uma distância aceitável para início de temporada.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/15/2015 12:01:00 da manhã
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
[À Descoberta de Vila Flor] e de repente é noite (XLVII)
Não reduzas tudo a esquadria e pedra.
Há sempre uma criança
em nosso horizonte de altas velocidades,
um ninho vazio nas mãos,
delgado corpo de aldeia à hora da sesta.
E o carvão de uma imensa noite
subindo pelas fontes onde correm
nossos terrores de caudaloso magma,
ávidos do centro
de um círculo perdido.
--
Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/11/2015 10:05:00 da tarde
Há sempre uma criança
em nosso horizonte de altas velocidades,
um ninho vazio nas mãos,
delgado corpo de aldeia à hora da sesta.
E o carvão de uma imensa noite
subindo pelas fontes onde correm
nossos terrores de caudaloso magma,
ávidos do centro
de um círculo perdido.
Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Miradouro, em Vila Flor.
Fotografia: Miradouro, em Vila Flor.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/11/2015 10:05:00 da tarde
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
[À Descoberta de Vila Flor] Já passaram 9 anos!
Vindima perto do Gavião - Seixo de Manhoses |
Cesta de cogumelos silvestres |
Fumeiro de Vila Flor numa das mostras TerraFlor |
Amendoeiras em Flor, uma das maiores atracções turísticas do nordeste transmontano |
Festa do foral manuelino em Freixiel |
Fruta da Vilariça - Feira TerraFlor |
Rua de Santa Luzia, ao fim do dia |
Vinho fino - Feira TerraFlor |
Festa de S. Bartolomeu |
Imagem de S. Bartolomeu |
Para já, desejo um bom ano a todos.
Bolo do 9.º aniversário, partilhado com amigos |
Números do 9.ºano:
Páginas vistas - 25.771Visitantes - 16.292
Comentários - 10
Postagens - 8
Km percorridos em BTT - 15
Km percorridos a pé - 59
Fotografias tiradas - 17.225
Fotografias publicadas - 45
Alguns dados estatísticos da evolução do Blogue |
Números totais (9 anos):
Páginas vistas - 751.379Visitantes - 352.090
Comentários - 1 884
Postagens - 1 167
Km percorridos em BTT(9 anos) - 4.580
Km percorridos a pé (9 anos) - 1.748
Fotografias tiradas - 161.320
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 9/10/2015 11:34:00 da tarde
[À Descoberta de Vila Flor] Festa de S. João no Mourão
No dia 23 de Junho realizaram-se no Mourão as tradicionais festas de S. João. Este ano coincidiram com um dia feriado, o que me permitiu acompanhar de perto estas festividades.
Cheguei à aldeia a meio da tarde e a paz era tanta que eu pensei ter-me enganado na data. O palco montado na Largo de São Ciriaco desfez as minhas dúvidas. Depois de um largo passeio pela aldeia apercebi-me que as actividades estavam a decorrer no campo de futebol.
Nesse local decorreu uma animada disputa dos jogos da malha e do cepo, de que acompanhei a parte final. Estes jogos têm os seus adeptos habituais, que jogam como poucos e têm gosto em jogar. Estou habituado a vê-los, por exemplo na Festa das Maias, em Folgares. Em jogo estavam prémios como presuntos e cabritos, que já esperavam pelos vencedores dentro da casa dos milagres.
No largo preparavam-se tudo para um grande arraial. O porco no espeto começava a espalhar o seu aroma pelas redondezas. Preparavam-se as mesas e partia-se o pão. Mais tarde assaram-se as as sardinhas e barriga de porco.
Ao início da noite foi erguido o enorme mastro, um pinheiro com cerca de 10 metros de altura. Depois de revestido por palha, elevou-se às alturas com a força dos braços dos homens, já habituados a esta prática antiga.
Pouco depois das oito da noite, já com os prémios dos torneios entregues, iniciou-se o jantar. Parecia que a população de Mourão tinha triplicado! Na verdade havia pessoas de todo o concelho e até pessoas do concelho de Carrazeda de Ansiães!
O grupo musica, penso que se chamava "Terceira Geração", tocava música popular, nem sempre com grande afinação. É um grupo de jovens, irreverentes, que por vezes levaram o apimentado das músicas a excessos, mas poucos deviam estar com atenção às letras. A maior parte das pessoas dançava animadamente porque a noite estava muito fria, e, ou se aquecia o corpo com uns copos de vinho, ou com danças animadas ao som da concertina.
Já depois da meia noite foi pegado fogo ao vareiro. Estava vento e as chamas devoraram rapidamente a palha. Mal o pote de barro preso nas alturas caiu ao chão e se desfez em mil pedaços, também a multidão debandou, restituindo à aldeia a sua habitual pacatez.
A queima do vareiro é uma prática levada a cabo em muitas localidades de Portugal, mas na maior parte delas faz-se por altura do Carnaval (embora se faça também nos Santos Populares). Tentei falar com algumas pessoas e saber mais pormenores sobre a tradição mas, não encontrei grande receptividade. A organização desconhecia a existência deste blogue e tive alguma dificuldade em justificar a minha presença e o porquê de tantas fotografias.
Foi uma boa oportunidade para Descobrir mais do Mourão, mas acredito que as pessoas são mais recetivas e abertas do que o que senti. Voltarei, logo que haja outra oportunidade.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 6/25/2011 12:16:00 da tarde
Cheguei à aldeia a meio da tarde e a paz era tanta que eu pensei ter-me enganado na data. O palco montado na Largo de São Ciriaco desfez as minhas dúvidas. Depois de um largo passeio pela aldeia apercebi-me que as actividades estavam a decorrer no campo de futebol.
Nesse local decorreu uma animada disputa dos jogos da malha e do cepo, de que acompanhei a parte final. Estes jogos têm os seus adeptos habituais, que jogam como poucos e têm gosto em jogar. Estou habituado a vê-los, por exemplo na Festa das Maias, em Folgares. Em jogo estavam prémios como presuntos e cabritos, que já esperavam pelos vencedores dentro da casa dos milagres.
No largo preparavam-se tudo para um grande arraial. O porco no espeto começava a espalhar o seu aroma pelas redondezas. Preparavam-se as mesas e partia-se o pão. Mais tarde assaram-se as as sardinhas e barriga de porco.
Ao início da noite foi erguido o enorme mastro, um pinheiro com cerca de 10 metros de altura. Depois de revestido por palha, elevou-se às alturas com a força dos braços dos homens, já habituados a esta prática antiga.
Pouco depois das oito da noite, já com os prémios dos torneios entregues, iniciou-se o jantar. Parecia que a população de Mourão tinha triplicado! Na verdade havia pessoas de todo o concelho e até pessoas do concelho de Carrazeda de Ansiães!
O grupo musica, penso que se chamava "Terceira Geração", tocava música popular, nem sempre com grande afinação. É um grupo de jovens, irreverentes, que por vezes levaram o apimentado das músicas a excessos, mas poucos deviam estar com atenção às letras. A maior parte das pessoas dançava animadamente porque a noite estava muito fria, e, ou se aquecia o corpo com uns copos de vinho, ou com danças animadas ao som da concertina.
Já depois da meia noite foi pegado fogo ao vareiro. Estava vento e as chamas devoraram rapidamente a palha. Mal o pote de barro preso nas alturas caiu ao chão e se desfez em mil pedaços, também a multidão debandou, restituindo à aldeia a sua habitual pacatez.
A queima do vareiro é uma prática levada a cabo em muitas localidades de Portugal, mas na maior parte delas faz-se por altura do Carnaval (embora se faça também nos Santos Populares). Tentei falar com algumas pessoas e saber mais pormenores sobre a tradição mas, não encontrei grande receptividade. A organização desconhecia a existência deste blogue e tive alguma dificuldade em justificar a minha presença e o porquê de tantas fotografias.
Foi uma boa oportunidade para Descobrir mais do Mourão, mas acredito que as pessoas são mais recetivas e abertas do que o que senti. Voltarei, logo que haja outra oportunidade.
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Publicada por Blogger às À Descoberta de Vila Flor a 6/25/2011 12:16:00 da tarde
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