Continuação de: À Descoberta de Marzagão (1.ªParte)
O melhor lugar para deixar o automóvel é o Largo da Igreja. O resto da aldeia deve ser explorado a pé. Tomando a Rua de S. João Baptista chega-se à capela de S. João. É uma construção sóbria, pequena, recuperada depois de muitos anos de abandono. Não tem qualquer altar, mas no tecto são visíveis alguns vestígios de pintura.
Depois de se passar na Fonte da Santinha (tem um painel de azulejo representando Nossa senhora de Fátima) e a Rua do Loureiro há uma capela com um pórtico de volta perfeita, em granito. É propriedade privada e poucos sabem o que está lá dentro.
Continuando na rua de S. João Baptista surge, à esquerda, mais um cruzeiro. Agora completamente lavado, já teve um aspecto bastante diferente. Estava decorado com a imagem de Cristo crucificado, tendo pintado à frente de uma das mãos um martelo; à frente da outra mão uma turquês; num dos lados da cruz estava pintada uma escada. Os restos da pintura desapareceram há mais de meio século, após uma limpeza.
É preciso percorrer a rua de S. João Baptista até ao final, ultrapassar as últimas casas em direcção ao Carrascal, para se encontrar a Fonte do Gricho. Completamente recuperada é, de novo, motivo de orgulho para todos os habitantes. Aqui alguns passaram momentos importantes das suas vidas, num tempo em que ir à fonte era uma das actividades mais interessantes, principalmente para as moças solteiras. Quando aparecia um rapaz com habilidade para o realejo, os pesados canecos de madeira ficavam esquecidos na borda da fonte e improvisava-se um baile, que durava até ao fim da tarde.
A fonte do Gricho é uma bonita fonte de mergulho, talhada em granito, embutida numa parede, a que se tem acesso do caminho descendo alguns degraus. Do lado direito está gravada uma data, que não se percebe completamente. Parece ser 1844A, mas não tenho a certeza.
De regresso à aldeia, foi a altura de me perder pelas ruas mais estreitas, becos e caminhos sem nome. Nome? Têm … como Rua da Portelinha, Rua do Cruzeiro, Rua das Poldras, Rua do Loureiro, Rua da Pereira, Rua da Escola, Rua da Fonte Nova, Largo do Terreiro, Cimo do Povo, Laja, etc. O problema é que não existem placas, e, mesmo os residentes, não sabem bem o nome da rua em que moram! Segundo consegui apurar, há muitos anos atrás as ruas tiveram placas com os nomes, mas foram retiradas! Se forem placas em chapa, esmaltadas, como a que está no início da rua S. João Baptista, acho que é de as repor, são muito bonitas.
Não resisti a subir ao Cimo do Povo. Deixei as casas para trás e subi ao alto de um rochedo de onde tinha uma nova perspectiva da aldeia. O núcleo mais antigo de casas está muito degradado. Há locais onde não chegam os automóveis e onde praticamente não mora ninguém. Também Marzagão sobre do mal geral, a desertificação. Os que restam procuram melhores condições, construindo à volta, em bairros novos, com mais espaço, com melhores acessos. Apesar da falta de pessoas, as condições são melhores do que alguma vez foram, com os estreitos caminhos calcetados e limpos.
Espreitando aqui e além, fui descobrindo curiosidades que me tinham passado despercebidas em visitas anteriores. Quando descia do Cimo do Povo encontrei outra fonte de mergulho, muito mais rústica e antiga do que a Fonte do Gricho. Pelo desgaste na soleira que lhe dá acesso, deve ter sido muito utilizada. Mesmo em frente da fonte, uma casa velha tem gravado na ombreira da porta as iniciais A. J. e o ano de 1760.
Há várias janelas e portas com estilo manuelino. Nada de muito elaborado, mas o suficiente para merecerem ser preservadas. Perto da rua da Pereira há duas coisas que também merecem ser referenciadas. Uma delas é o pórtico de uma casa, em granito, ricamente trabalhado. Infelizmente estava tapado por fitas para as moscas! A outra são dois ornamentos, chamados mísulas com representação de duas cabeças. Uma, dizem que representa Marzagão e a outra a sua esposa.
Ao longo de toda a aldeia há interessantes alpendres em madeira, pedras gravadas com desenhos e datas (dizem que algumas vieram do castelo), bem como alguns trabalhos em ferro forjado dignos serem fotografados.
Existe na aldeia um bonito café, mas que raramente está aberto. A taberna Trigo também já está encerrada, depois de ter servido durante dezasseis anos. A idade avançada e a falta de clientes, ditaram a morte do espaço, que pouco mudou desde então. E foi com um copo de vinho fino na taberna, aberta só para satisfazer a minha curiosidade, que terminei o meu périplo pela aldeia de Marzagão.
Ficou muita coisa por visitar: o castelo das Donas; uma necrópole; a Fonte Santa; os moinhos de água que se estendiam pela Ribeira de Linhares, etc. Ficou por fazer; um passeio pedestre entre Marzagão e o castelo; explorar o vale ao longo da ribeira da Ferradosa, quem sabe até uma caminhada entre Marzagão e Campelos. São muitas as razões para voltar a Marzagão em breve.
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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Carrazeda de Ansiães a 3/06/2011 12:35:00 AM
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