terça-feira, 25 de dezembro de 2012

[À Descoberta de Vila Flor] Prece de Natal

Presépio em Candoso
 Senhor, falo-te da tua noite
desta noite maior
- rumores de instantes efémeros e vários
a tomarem o tangível
a abstrata  noção do infinito.

Desta noite solene e fria.
Longa de mais a tua noite, Senhor!
Longa de mais
para a nossa mística sede
de ser dia!

Do negrume do espaço. Mais distante,
sempre, o sentido de Sagrado.
E as perguntas decisivas que fazemos,
sem respostas que nos pacifiquem.

Mas, nesta noite,
uma gota de grandeza do invisível
escorre
na candeia do barro do visível.

Presépio no Jardim de Infância de Samões
Não quero importunar-Te, sobretudo no instante
em que estás tão próximo de nós
que divinos sinais se anunciam
na nossa humana imperfeição.

Venho pedir-Te pelas crianças
que o tempo tornou homens,
sem terem aconchegado ao peito
a forma colorida de um brinquedo
que não passou do sonho de uma vida inteira.
Presépio em minha casa

Pelos que se rebelam
contra a tirania e a opressão,
e, mesmo ofendidos e humilhados,
quebram as algemas e sabem dizer "Não!"

Pelos que erguem palácios
com o supremo esforço da alma e carne em sangue
e, uma vez depostos
o escopro e o cinzel,
acabam por dormir sempre ao relento.

Misericórdia para os loucos,
os famintos, os assolados
de infindável solidão,
a quem voltámos as costas
porque falam uma língua
que fizemos por não compreender.

Presépio em Carvalho de Egas
para os que perderam tudo
e continuam a jogar
na roleta da vida,
à espera de ganharem madrugadas
ou, simplesmente, um sopro de vento
que imite o mar.

Para os que nada sabem de amor
e fazem da existência
uma ardósia preenchida
com contas de multiplicar,
Sim, clemência também para estes,
Senhor,
porque estão desatentos
e desconhecem as nobres operações de
dividir.

Presépio no quartel dos Bombeiros Voluntários de Vila Flor
Para os que não têm luz, água, lar, alegria e
paz
sem dinheiro sequer
para o bilhete do autocarro,
percorrendo distâncias
que lhes deixam os pés em ferida.


Para os artistas falhados
que passaram o tempo
a contorcer a imaginação criadora,
na vã perseguição
do sulco luminoso de um cometa.

Presépio em Vila Flor
Para os corações
que muito quiseram,
fechados para se abrasarem
no mesmo feixe de luz,
e dos quais só ficou
uma lágrima pungente
pousada numa fímbria de aurora
que nunca chegou a ser dia!

Um pedido mais. O último Senhor!
Só tu podes alterar
o ritmo cósmico das estações.
Faz com que o Natal seja em Maio
(jamais em Dezembro!)
para que, em consonância com a terra,
o milagre possa acontecer:
as crianças deixem de ter frio
e as suas mãos solares se elevem
no futuro gesto de colher um fruto!
Presépio em Valtorno (com mensagem de Natal do Dr. João de Sá (2011)).

Natal 2011, João de Sá

Poema que o Dr. João de Sá me enviou para o Natal de 2011.

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Publicada por Blogger em À Descoberta de Vila Flor a 12/25/2012 02:54:00 p.m.

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