No primeiro dia de Outubro teve lugar a minha primeira visita a
Marzagão, à qual se seguiram mais algumas ao longo do mês. Objectivo foi sempre o mesmo: descobrir os recantos e encantos de aldeia que só de pronunciar o nome já nos transporta para mundos imaginários de mouros e histórias misteriosas.
Os terrenos da freguesia começam quase às portas da vila de
Carrazeda de Ansiães, pois o lugar de
Luzelos pertence-lhe, e estendem-se ao longo da ribeira da Ferradosa quase até ao Douro. A amplitude topográfica permite a esta freguesia rural aptidão para algumas produções agrícolas de relevo. Na parte mais alta predominam os pomares de macieiras, uma das maiores riquezas do concelho; na ribeira colhe-se o vinho e o azeite. Durante todo o mês de Novembro sentiram-se nas ruas da aldeia o cheiro a mosto e o aroma a maçãs, que proporcionam trabalho na aldeia.
Um passeio a
Marzagão devia começar, como é óbvio, em
Marzagão. Mas não foi isso que eu fiz. A minha primeira paragem foi precisamente no
Castelo de Ansiães, na
Lavandeira. Além de se poder apreciar uma imensa paisagem que inclui quase toda a área de freguesia, há uma forte ligação histórica ente o castelo de
Ansiães e
Marzagão. O esplendor de
Marzagão deve ter acontecido precisamente com o declínio da vila de
Ansiães e com a mudança de alguns serviços para a aldeia, nomeadamente religiosos.
Do alto do castelo, passeando o olhar da esquerda para a direita percorre-se toda a aldeia, seguindo o traçado da sua rua principal, a
rua de
São João Baptista. Mesmo à distância, é possível distinguir os
núcleos de casas mais antigas, o campanário da igreja, o cemitério e algumas casas mais recentes nos bairros mais periféricos. Nos montes envolventes há muito verde. Os sobreiros misturam-se com os castanheiros e os pinheiros. Também se distingue perfeitamente o alinhamento dos pomares e o verde característico das oliveiras. Entre o castelo e a aldeia, a Quinta da Aveleira, numa extensa área, permite adivinhar grandes quantidades de maçãs douradas.
Em direcção ao Douro não vale a pena olhar, pelo menos nos próximos tempos. O extenso vale foi completamente devorado pelas chamas no Verão passado e tem um aspecto desolador.
A caminho da aldeia, talvez seja interessante lançar um olhar à igreja de
S. João Baptista, extra muros.
S. João Baptista é precisamente o padroeiro de
Marzagão.
Marzagão tem uma bonita
entrada, ao longo da estrada M632-1. Depois do Bairro da Carreira Branca chega-se ao
Largo da Igreja, ou Fundo do Povo, como é conhecido. A
igreja Matriz, elegante, bonita, domina o largo e a nossa atenção. Esta igreja é a ponte entre
Marzagão e a antiga vila de
Ansiães, uma vez que para aqui foi transladada no ano de 1575. Reformulou-se em 1765 e as casas laterais, há muito tempo em obras de recuperação, em 1756. É quase obrigatório dar uma volta no adro da igreja, agora muito mais vistosa depois de cortados dois enormes ciprestes que no passado estiveram à sua frente.
Em volta da igreja há catorze grandes cruzeiros em granito. Os pináculos, no telhado, são elegantes, bonitos, decorados com motivos florais. No frontispício destaca-se uma
bela janela e, por baixo dela uma cruz, a da
Ordem de Cristo.
Marzagão foi da reitoria do padroado real e cabido da comenda de
S. João Baptista, da
Ordem de Cristo.
Com um pouco de sorte, talvez se possa entrar no interior da igreja. É um monumento digno de veneração e admiração. Todo o
tecto está coberto de painéis representando santos, santas e cenas da vida de Cristo (perto de 150 quadros). O altar-mor em talha dourada é muito bonito, tal como os quatro altares laterais. Em vários locais é possível encontrar pedaços da história. Numa lápide pode ler-se:
"Esta igreja transladouse aqui da primitiva extra muros da vila de Anciaens no ano de 1575: e reformousse no ano de 1765: sendo reitor o Doutor Antonio de Souza Pinto da M.a Freg.a".
Um dos dias grandes desta igreja acontece no primeiro Domingo de Maio, aquando das f
estas em honra de Nossa Senhora do Rosário. Além da
missa solene com pregador convidado, realiza-se uma majestosa procissão, com bandeiras, estandartes e os andores de S. João Baptista e Nossa Senhora do Rosário, entre outros.
A paragem seguinte é noutro monumento de relevo da aldeia: a
Ponte do Galego, também conhecida como Ponte Romana. Situada fora do povoado, junto à estrada que segue para
Linhares, apresenta dois arcos de volta perfeita e um tabuleiro plano. Tudo em
granito. Estabelecia a ligação entre a vila de
Ansiães e
Arnal, com ligações ao Douro. Na melhor das hipóteses, as fundações remontam à Idade Média.
No regresso podem ser apreciados: a antiga escola primária, há muito tempo encerrada; um
nicho com S. João Baptista, onde se realiza uma pequena festa com cascata no dia de S. João, e um bonito
cruzeiro (que ainda tem restos metálicos da existência do mealheiro). Tal como nas alminhas, nestes cruzeiros recolhiam-se esmolas com que se celebravam missas, para sufrágio das almas do purgatório.
Continua:
À Descoberta de Marzagão (2.ªParte)
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Publicada por Xo_oX em
À Descoberta de Carrazeda de Ansiães a 2/17/2011 11:52:00 PM