terça-feira, 16 de outubro de 2012

[À Descoberta de Carrazeda de Ansiães] 1 Dia por terras de Ansiães (8)

 Já há bastante tempo que não reservava um dia inteiro para passar a percorrer o concelho, por isso foi com bastante entusiasmo que no dia 5 cheguei a Carrazeda. Tenho sempre um destino em mente, mas os planos vão-se alterando ao sabor da Descoberta, com acontecimentos banais como o chuva, a fome, o cansaço ou a disponibilidade das pessoas que encontro.
O destino centrava-se em Beira Grande, mas a sessão fotográfica começou logo na Junta de Freguesia de Carrazeda de Ansiães, onde fiz a primeira paragem.
Rumei para Beira Grande. O dia estava frio, com algumas nuvens mas prometia boas condições para a fotografia. A aldeia é pequena e pouco povoada. Optei por continuar em direção ao Douro no intuito de investigar um pouco sobre o rumores que tinha ouvido sobre a existência de um povoado antigo, que pode ter sido a aldeia que antecedeu a atual Beira Grande. Conhecia vagamente o local e como fica situado junto da estrada não me foi difícil encontrá-lo.
Procurei as evidências de que me tinham falado: alicerces de casas, da igreja e do cemitério. A quantidade de pedras soltas é enorme e encontram-se alinhadas formando paredes algumas com mais de um metro de largura. É possível que aqui tenha existido um povoado fortificado mas o local foi utilizado para a agricultura até à atualidade, sendo difícil saber o que remonta à idade média e o que é resultado da adaptação dos terrenos para a agricultura.  Está garantido que no local existiu um povoado, o IGESPAR já o visitou várias vezes. É conhecido pelo nome de S. Pedro.
 Procurei também os vestígios da chamada Fonte Santa, a alguma distância do antigo povoado e a uma quota bastante inferior. A antiga fonte deu lugar a um poço, aberto por uma giratória e tem bastante água. A designação Fonte Santa parece ser atribuída a várias fontes, todas nas imediações. Um cruzeiro granítico na berma da estrada ajuda a sinalizar o local.
Do topo do cume onde existiu o povoado já se avista o rio Douro, mas, para poente, é visível um marco geodésico a alguma distância, que despertou a minha curiosidade.
O marco geodésico do Seixo dos Corvos eleva-se a 552 metros de altitude. Apesar de estar a uma quota inferior à de outro marco geodésico existente no termo de Beira Grande, o do Arejadouro, a quase 700 metros de altitude, a sua localização mais próxima da bacia do Douro permite avistar uma paisagem indescritível, que só ao longo do Douro se pode admirar. Mas para norte, a paisagem também é bela, embora agreste, agora totalmente ao abandono e devastada por incêndios. No fundo do vale corre o ribeiro do Síbio, ainda completamente seco, que tem origem em Seixo de Manhoses e passa junto à aldeia de Beira Grande.  As encostas rochosas são ciclópicas e atingem os 750 metros de altitude  no seguimento da encosta onde se encontra a Lavandeira.
Também muito interessante é um pico rochoso, quartezítico, que se destaca na paisagem e que dá o nome ao local, o Seixo dos Corvos.
No intuito de avistar melhor a ponte ferroviária da Ferradosa, local onde o a linha do comboio atravessa o Douro, continuei pela crista na montanha mais para jusante, até que o relevo acidentado não me deixou progredir. E foi com uma paisagem privilegiada à minha frente que me sentei numa fraga a saborear o almoço que levava na mochila que carregava às costas.
Saciado o estômago e a alma, regressei à estrada e desci ao Miradouro que integra a Rota do Douro. O local é agradável e a paisagem bucólica, mas depois do que eu avistei lá do alto, já não me mereceu tanta demora.
Dividi-me entre a vontade de continuar a descer e percorrer as quintas do Douro até chegar a Ribeirinha, ou voltar para trás, para a aldeia de Beira Grande. Como pretendia fazer um longo passeio pela aldeia, voltei para trás.
Como disse inicialmente a aldeia de Beira Grande é pouco povoada. As ruas mais antigas poucos moradores têm e há mesmo becos abandonados há décadas. As pessoas e casas deslocaram-se para junto da estrada com nome Avenida Principal, mas também para a Rua do Cemitério ou Rua da Costa. Percorri as zonas mais antigas (é uma tendência minha ir sempre para as partes mais velhas!). Não encontrei viva alma e ainda bem, porque às vezes não é fácil explicar o que que se faz a espreitar em todos os becos e vielas.
Há muitas casas em ruínas, grande parte delas térreas, com uma interessante utilização do granito. Não há casas brasonadas ou outras que se destaquem pela sua imponência.  Há algumas antigas, recuperadas com gosto e também algumas vivendas novas, onde não se pode espreitar sob penas de sermos filmados. A antiga escola primária, a primeira (porque houve uma segunda da década de 60), recuperada e adaptada para a Junta de Freguesia, é um dos edifícios mais interessantes.
 A mesma estrada (N632-3) toma diferentes nomes ao longo da aldeia: começa por ser Rua da Lameirinha, depois Rua da Portela, Rua do Geraldo e Avenida Principal! Visitei a Rua da Costa, a Rua do Cemitério e a Rua do Pereiro, nestas últimas duas estive pela primeira vez. O percurso terminou no Largo de Santo António junto à Igreja Matriz. Externamente o templo tem poucos elementos arquitetónicos de relevo, destacando-se os painéis solares no telhado e, na cornija do alçado lateral direito uma pequena figura humana a que chamam borrachona, de que falarei noutra altura. A igreja estava fechada, bem como a capela ali próxima. Reposei um pouco no coreto da Rua da Mina.
Ouvi vozes e dirigi-me para lá. Dois habitantes locais descascavam amêndoa e aproveitei para meter conversa. Ganhei algumas informações e um copo de tinto. Como a tarde já ia adiantada parti.
Para saber informações sobre a caminhada da Rota das Maçãs ainda fiz uma incursão a Marzagão. O dia tinha sido de vindima e tentavam meter todas as uvas no lagar, tarefa que não foi superada (mesmo com menos um saco delas, que me foi oferecido).
No bar ao lado já bebiam uns copos e descansavam da azáfama do dia.
A noite chegou e com ela terminou mais um dia À Descoberta por terras de Ansiães. Foi um dia sobretudo de silêncio, de comunhão com a paisagem; de austero granito e de afável receção, por parte das poucas pessoas com quem falei. É destas coisas que Ansiães é feita.



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Publicada por Blogger em À Descoberta de Carrazeda de Ansiães a 10/16/2012 02:42:00 a.m.

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