Quando, no início do mês de Março, escolhi Ribalonga como meu destino, fiquei cheio de expectativa. Era uma aldeia praticamente desconhecida para mim, uma vez que, apesar de a ter atravessado muitas vezes, poucas foram as que deixei a rua principal (com o bonito nome de rua da Amendoeira), para me aventurar nas ruas e becos que compõem o povoado. Uma excepção aconteceu no final da década de oitenta, já não sei precisar o ano, em que, acompanhado por pessoas da aldeia e alguns amigos caminhámos de Ribalonga até ao Douro, à descoberta da Fraga das Ferraduras e das pinturas rupestres do Cachão da Rapa.
Sempre que realizei alguns passeios nos termos de Parambos e Castanheiro do Norte o olhar fugiu em direcção ao vale, onde as casas parecem estar de tal forma integradas que seria difícil imaginá-lo sem elas. Foram as pessoas que assim o moldaram. À excepção de algumas pequenas parcelas de terra mais planas nas margens da ribeira da Lavandeira, tudo em redor é fruto do trabalho do homem que ao longo de muitas gerações construiu socalcos para segurar punhados de terra onde as oliveiras, amendoeiras, videiras e laranjeiras pudessem fixar as suas raízes. E não é precisa muita. A terra parece ter magia e as plantas crescem, viçosas, dando, ainda hoje, a maior parte do sustento àqueles que não cederam ao impulso da emigração.
A situação geográfica abençoa o vale, protege as suas colheitas e fá-las ficarem prontas cedo, antes do conseguido na zona da frieira, mais próxima da sede de concelho.
Ribalonga é a terra natal da minha tia e madrinha, tirada do calor da pequena aldeia soalheira e levada por meu tio para outra semelhante, algures nos arredores de Mirandela, onde tomaram conta da quinta de uma família abastada. Ali viveram até que o Criador se lembrou deles.
A porta de entrada em Ribalonga é a Estrada Municipal 634 que, desde já alguns anos, serve de alternativa à Nacional 214, que une Castanheiro do Norte a Foz-Tua.
O largo das Amendoeiras, junto ao coreto e ao lagar, é um dos pontos mais centrais e mais procurados da aldeia. Foi aí que estacionei o carro, fazendo todo o percurso de reconhecimento a pé.
O início da manhã em Ribalonga parecia o amanhecer no paraíso! Ouviam-se coros de pintassilgos, verdelhões, tentilhões, milheiros, etc. Todas as espécies de aves anunciavam a Primavera, já próxima. Uma poupa e um rabirruivo digladiavam-se pela posse de um buraco na parede de xisto de um armazém próximo. Sentei-me à sombra de um cedro enquanto preparava o material fotográfico e a "cábula" que me iria acompanhar na visita à aldeia. Para apreciar a beleza basta estar atento, e sensível, mas, para compreender alguma coisa da história que as pedras nos podem contar, é melhor recorrer à sabedoria dos livros.
A primeira surpresa tive-a mal dei os primeiros passos. Na parede há um bonito nicho com uma enorme imagem de S. Marinha. O gradeamento em ferro forjado ostenta o ano de 1992. Pereceu-me uma construção muito recente, mas, pelo que consegui apurar, não havia mesmo nada no local antes dessa data. S. Marinha é a padroeira de Ribalonga, santa de muita devoção. Ao longo da aldeia fui encontrar vários painéis de azulejos com representação desta santa. No séc. XVI já existia em Ribalonga a confraria de Santa Marinha.
Seguindo pela rua de Santa Marinha, encontra-se, pouco depois, um dos principais "postais" da aldeia. Trata-se de uma casa brasonada com uma capela. A pequena janela na parede lateral da capela despertou-me a atenção. Será que teria alguma função? Os pináculos da capela são diferentes dos da casa brasonada, mas igualmente bonitos. Fizeram-me lembrar os da igreja matriz de Marzagão ou da de Linhares. A capela tem o ano de 1766 e, mesmo sendo particular, é nela que está a imagem de Nosso Senhor dos Passos, presença habitual na procissão das festas de Santa Marinha a 18 de Julho.
Continua
À Descoberta de Ribalonga (2.ª Parte)
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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Carrazeda de Ansiães a 5/28/2011 08:30:00 AM
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