No primeiro dia do mês de Maio teve lugar mais uma longa caminhada, desta vez à freguesia do Mourão, bem nos limites do concelho de Vila Flor.
O dia 1 de Maio é muito simbólico, não só por ser o Dia do Trabalhador, mas também porque a ele estão associados um conjunto de tradições de que não se conhece bem a origem. Na noite de 30 de Abril para um de Maio são colocados ramos de giestas em flor (maias) na entrada das habitações.
Este gesto simbólico, cheio de superstições tem várias origens talvez nenhuma delas verdadeira ou todas verdadeiras no seu conjunto. Há quem aponte esta origem a questões de religião, nomeadamente a passagem bíblica em que Herodes manda matar a criança da casa assinalada com um ramo de giesta, aparecendo de manhã todas as casas enfeitadas com giesta, impedindo os soldados de cumprirem a cruel tarefa de matarem o menino. Maia era uma deusa grega. Na mitologia romana também existe a deusa Maia. Festejada a 15 de Maio, é considerada a deusa da fecundidade, da Primavera, sendo-lhe dedicados o primeiro e o décimo quinto dias do mês.
A verdade é que no primeiro dia do mês de Maio a maioria das casas das aldeias (e também na vila) aparecem enfeitadas com um ramo de giesta em flor. Este gesto é tido como protecção contra o infortúnio trazendo segurança e fartura às casas. Curiosamente não são só as casas de habitação que são "protegidas" com as maias; é possível ver as cortes dos animais e mesmo as viaturas ostentando o tradicional ramo de giesta em flor.
Caminhar até ao fim do termo do Mourão parece um grande desafio. Apesar de haver aldeias mais distantes geograficamente da sede de concelho, o relevo dita que algumas vivam mais distanciadas de Vila Flor, principalmente fruto das vias de comunicação, que não negam a história, conduzindo a outros locais. Se traçarmos uma linha recta entre Vila Flor e Mourão, ela passará no Seixo de Manhoses seguindo de perto o traçado de caminhos centenários usados em feiras e romarias desde a idade média até ao século XX, quando as deslocações se começaram a fazer de automóvel.
Palmilhar estes caminhos é uma oportunidade de reviver a história, mas também são momentos único de contacto com a Natureza (e com as pessoas) luxuriante nos meses de Primavera.
Contrariamente ao que aconteceu ao longo da semana, no dia 1 o clima não se mostrou nada acolhedor. Muitas nuvens e alguma chuva foram presença constante durante toda a manhã de Domingo.
O traçado não é nenhuma novidade: Vila Flor - Barragem Camilo Mendonça - Seixo de Manhoses - Barragem Mourão-Valtorno - Mourão - Capela de S. Plácido. É um excelente traçado, mesmo para BTT, com o desafio de descer à barragem e subir depois ao Mourão, com alguma dificuldade.
Ao longo dos caminhos era impossível ficar indiferente à explosão de vida e cor. Madres-silvas espalhavam o seu aroma tal como outras plantas aromáticas. O céu escuro ameaçava com chuva, mas a pujante vegetação parecia pedi-la. A passagem pela albufeira Camilo Mendonça foi rápida mas inspiradora.
O meu colega Helder acompanhava-me nesta "Peregrinação", por isso optei pelo caminho que conduz ao Seixo pelo ribeiro do Sangrinho, que tanto me tinha agradado na "Peregrinação" de 14 de Novembro de 2010. Uma novidade nesta caminhada foi a visão de tritões (penso que o tritão-marmoreado - Triturus marmoratus) e outras espécies animais que encontrámos em vários locais ao longo da caminhada. Com a erva molhada rapidamente ficámos com o calçado encharcado, mas isso é só mais um dos elementos que é necessário aprender a suportar.
No Seixo ainda tivemos tempo para um reconfortante café, antes de nos aventurarmos a caminho do barragem Mourão-Valtorno. Este troço do caminho já era nosso conhecido duma das primeiras caminhadas.
Depois do cruzeiro no caminho que desce para a barragem, há muito espinheiros. Contrariamente àquilo que eu previa não estavam em flor. Em volta da barragem sim, havia muitas giestas em flor e a água transbordava com enorme barulho.
Seguiu-se depois a etapa mais penosa da caminhada, até à aldeia do Mourão. Para a subida não ser tão íngreme, acabou por ser mais longa, uma vez que contornámos o cume onde se encontra o cemitério e entrámos pela aldeia quase a sul, onde também há um cruzeiro exposto a sul. Este caminho já o segui em anteriores ocasiões.
Na aldeia encontrámos pouca gente. Depois de pedirmos algumas orientações quanto à localização da capela de S. Plácido posemo-nos a caminho. Não há nada que enganar, basta seguir o caminho. Mas, para complicar as coisas perdemo-nos. Nunca tinha feito o trajecto Mourão - S. Sampainho. Sempre que fui à capela de S. Plácido fazia o percurso pela estrada de Vilarinho da Castanheira, da qual se avista, sendo fácil encontrá-la. Quando nos pareceu que já tínhamos andado demais, desviámo-nos do caminho, tentando encontrar a capela caminhando pelos terrenos. Foi uma grande asneira. Encharcámo-nos quase até à cintura e acabámos por encontrar a capela algumas centenas de metros mais adiante, na borda do caminho que iniciámos e que depois abandonámos.
Os últimos metros já foram bastante angustiantes. A somar ao cansaço havia a fome, porque a tarde já há muito tinha começado. Com o mau tempo existente também não havia disposição para fazer as coisas com calma e discernimento.
Junto à capela existem ruínas daquilo que resta do antigo lugar de S. Sampainho, presentemente abandonado mas que ainda era habitada no Séc. XVIII. A capela de S. Plácido foi recuperada e descaracterizada. A maior curiosidade está nas duas carrancas antropomórficas na fachada. Nas traseiras há uma pedra decorada que já mencionei numa anterior visita.
Quando atingimos a capela já o carro que nos havia de trazer de volta a Vila Flor esperava há muito tempo na estrada do Vilarinho da Castanheira. Depois de entrarmos no carro todos os cansaços passam e só ficam as peripécias interessantes da viagem. Foram mais de 14 km num ambiente completamente adverso, mas o desafio foi superado e já se planeavam outras "Peregrinações".
Percurso:
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Publicada por Aníbal G. em À Descoberta de Vila Flor a 7/09/2011 05:56:00 PM
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