Não pode haver época mais bonita para percorrer os montes de Vila Flor (e de Trás-os-Montes em geral) do que o mês de Maio. Por isso, tentei aproveitá-lo ao máximo, fazendo algumas caminhadas.
No dia 07 de Maio partimos de Vila Flor em direcção a Valbom em mais uma caminhada da série "Peregrinações". O percurso revelou-se mais demorado do que o planeado, e, pela primeira vez, não foi possível chegar ao destino previsto. Foram as pessoas que fomos encontrando ao longo do caminho, paisagens estonteantes e até alguma chuva que nos provocaram alguns atrasos. Em vez de Valbom, optámos por fazer um desvio à Capela de Nossa Senhora do Carrasco em Benlhevai.
O mau tempo ainda não se tinha afastado de Vila Flor. Quando atingimos as Capelinhas a caminho de Roios, nuvens negras cobriam o céu. mantiveram-se durante toda a manhã.
Dentro da povoação de Roios foram as primeiras cerejas maduras que despertaram a nossa atenção. Atravessámos a aldeia e saímos pelo caminho que conduz ao cemitério, já tantas vezes percorrido. Junto ao ribeiro, plantavam-se cebolas. Foi também junto ao ribeiro que encontrámos mais uma raridade: uma dedaleira (Digitalis purpurea) completamente branca! Já tinha encontrado na Linha do Tua, alguns anos atrás, uma planta semelhante, mas fiquei com a desconfiança que a cor se pudesse dever a algum produto químico usado na linha. Junto à ribeira não havia uma, nem duas, mas sim três hastes florais completamente brancas! Por todo o lado abundava a cor: o amarelo das maias, o vermelho das papoilas, até as batateiras estavam em flor! Todos os campos estavam mesmo a pedir ser fotografados.
Em Benlhevai aproveitámos para visitar a fonte de mergulho que fica num dos largos mais importantes da aldeia. Também voltei a ver um bonito relógio de sol que já tinha fotografado mas a que tinha perdido o rasto.
Abandonámos Vale Frechoso a caminho de Benlhevai por um caminho diferente daquela que habitualmente sigo. Esta mudança permitiu-nos encontrar uma espécie de "gruta" muito parecida com as que existem no Santuário de Nossa Senhora da Assunção. Está muito deteriorada, mas deve ter sido muito bonita, rodeada de jardim, de que ainda sobrevivem algumas roseiras.
Seguimos caminho já na presença dos gigantescos castanheiros, característica bem marcante do termo de Benlhevai. Os sobreiros quase nos fizeram sentir no Alentejo, mas a inclinação do terreno desfazia qualquer duvida.
Já foi prestes a chegar a Benlhevai que desistimos de chegar a Valbom. Já era uma da tarde e querer chegar tão longe é esforço a mais. Fizemos um desvio em direcção ao vale da Vilariça, apanhando o caminho que conduz à capela de Nossa Senhora do Carrasco. Entusiasmei-me a fotografar este caminho, mas infelizmente o tempo era escasso e a bateria da câmara Panosonic já tinha terminado à muito. Estava uma luz fantástica mas pouco pude fazer além guardar o entusiasmo para um futura visita ao mesmo local (que haveria de acontecer no dia 13 de Maio).
Foi já quando nos encontrávamos em volta da capela a admirar a paisagem que apanhámos o susto do dia. No meio de restos de madeira uma enorme cobra dormitava. A nossa curiosidade foi tanta que a provocámos por diversas vezes, até que ela, de forma pouco convicta, acedeu à nossa vontade e foi-se embora.
Não foi possível entrar na capela. Está distante da aldeia e é pouco frequentada. Só mesmo os animais selvagens e as ovelhas por aqui andam todos os dias. No entanto, esta capela já foi palco de uma grande fé e destino de muitos devotos. Salienta-se no interior um altar seiscentista em talha dourada. Segundo a lenda, a capela tem este nome porque quando um lenhador com uma picareta andava a arranjar lenha, espetou a picareta num carrasco e ouviu de seguida uns gemidos. Quando indagou a origem dos gemidos encontrou a imagem de Nossa Senhora escondida no carrasco. Fora Ela que gemera para que não a magoasse.
Muitos doentes procuravam esta capela para tentar resolver os seus males. A crença popular levava a que as pessoas colocassem sacos de areia ao pescoço quando havia doenças. Acreditavam que desta forma seriam curados. Quando se curavam os sacos eram trazidos aqui. Dizem que ainda há alguns saquinhos de areia na capela!
Com este misto de fé e de mistério, descemos ao centro da aldeia. Seria mais fácil resgatarem-nos no largo que existe no centro da aldeia.
Passava das duas da tarde quando regressámos a casa. Não foi uma caminhada muito longa, mas foi muito interessante. Certamente que voltaremos a percorrer os mesmos caminhos, mas dificilmente os veremos como naqueles dias do início do mês de Maio.
Percurso (12,5 km):
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Publicada por Anibal G. em À Descoberta de Vila Flor a 7/12/2011 08:30:00 AM
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