segunda-feira, 8 de novembro de 2010

[À Descoberta de Vila Flor] Cantos da Montanha ( IV - 6)


Oliveiras, minhas árvores serenas
em jeito de prece aprisionada
onde o tempo esfriou
esquecido do nome dos lugares,
até se tornar fio invisível de luz,
possível aceno de uma brisa
que passou longe
e nem sequer nos bafejou a fronte.

Árvores firmes na terra ardente
da cor da minha infância,
ansiando gotas de água
de uma nuvem distante.
Tuas mãos líquidas deslizando
na ardência do meu corpo,
devagar, tão devagar
como a aragem da tarde
tocando o silêncio dos nossos lábios,
sem interrogarem
o sentido dos caminhos percorridos.

Clarões extintos, porque nenhum olhar
foi digno de reter o brilho intenso.
Rostos do avesso da terra.
Poemas do indizível.
Concedei-me a vossa intimidade,
esse sacro mutismo de séculos.
Tornai-me vizinho dos deuses!

Em vossos troncos me reclino.
Rugosos mapas onde os meus sentimentos
circulam como rios.
Eis-me a caminho do que fui,
a ouvir-me numa estranha língua
que não me lembro de ter aprendido.
Ramos vergados de tanto retesarem
a linha dolente, quase triste
(e tudo se apaga e deixa de existir)
entre o amor e a morte.

Poema do mais recente livro do Dr. João de Sá, Cantos da Montanha (Canto IV, 6).

Fotografia: Oliveira entre a Ribeirinha e Vilarinho das Azenhas.

--
Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 11/08/2010 02:01:00 AM

Sem comentários: