No dia 7 de Novembro levantei-me cedo. Objectivo: mais uma Peregrinação, desta vez a Vale Frechoso, mais concretamente à capela de Nossa Senhora de Lurdes.
Não foi necessário programar muito o trajecto, é um percurso que, com algumas variantes, já fiz várias vezes em BTT. São pouco mais de 18 quilómetros, por montes e vales, apenas pisando alguns metros de estrada alcatroada na passagem por Roios.
O primeiro desafio é muito custoso, mas o fresco da manhã ajudou. Trata-se de subir à serra através da Rua do Caniço. Até para um veículo de todo o terreno é complicado, tal é o declive.
Ainda não tinha perdido o casario da vila de vista e já avistava bonitos medronheiros carregados de frutos maduros. O medronheiro é uma espécie arbustiva bastante curiosa, e nesta época tem frutos coloridos mas também está repleto de flores pequenas e brancas.
Com a extensão que tinha para percorrer, sabia que não me podia descuidar muito, e não desperdiçar tempo foi uma das minhas preocupações nesta caminhada.
Descer para Roios, atrás da Serra, além de ser a descer é um percurso agradável pelo colorido do Outono que já se notava nas cerejeiras, nos castanheiros e até nas videiras, parte delas já podadas. Os arroios, a montante de Roios, já levavam alguma água, mas pouca.
Depois de seguir durante o caminho que sobe a encosta em direcção ao monte onde se encontra o marco geodésico do Maragoto, onde já estive por diversas vezes, larguei-o e segui à direita. Esta é uma das zonas mais agrestes e que conheço no concelho. Há poucos campos agrícolas e as estevas de mais de metro e meio de altura, ocupam uma grande extensão. Alguns dos montes foram limpos para a plantação de floresta. No borda do caminho vi a maior concentração de cogumelos venenosos que já vi na minha vida. Eram imensos e gigantescos. Quase todos eram da espécie Amanita mata-moscas (Amanita moscaria). Embora sem o seu vermelho vivo característico são bastante fáceis de identificar.
Existem nesta zona alguns pinheiros e enormes sobreiros. Talvez por isso, vi o maior bando de pombos bravos que já alguma vez vi na minha vida. Tinha mais de 30 aves! Trata-se do pombo torcaz (Columba palumbus L.), uma vez que o pombo (Columba livia) apenas o vejo com alguma frequência nas rochas ao longo da linha do Tua. Ainda me cruzei com alguns caçadores, mas, parece que eles não tiveram a mesma sorte que eu.
O caminho levou-me ao campo de futebol de onze de Vale Frechoso. Fazia muito frio e, talvez por isso, atravessei toda a aldeia sem encontrar uma pessoa sequer.
Um dos lugares que nunca dispenso de visitar nesta aldeia, até porque tinha de por lá passar, é antiquíssima fonte de mergulho, situada, como é natural, no Largo da Fonte.
A capela de Nossa Senhora de Lurdes está situada à entrada da aldeia, num pequeno promontório, orientada para poente. É uma construção esbelta, recortada no céu, com uma configuração única no concelho. O acesso faz-se directamente da estrada, subindo alguns degraus e plataformas. Nestas plataformas há bonitos desenhos feitos em calçada com seixos, pretos e brancos.
A capela é muito iluminada e tem vidraças que permitem admirar o bonito altar onde se destaca uma imagem de Nossa Senhora de Lurdes.
Em volta da capela há um pequeno adro que, juntamente com o escadório, os jardins laterais e a posição elevada da capela fazem dela um bom miradouro e um local a visitar em qualquer passagem por Vale Frechoso.
Com metade do percurso feito, havia que regressar a Vila Flor. Escolhi um percurso diferente daquele que segui à ida. Junto do ribeiro, mais uma vez o vermelho das folhas do sumagre despertaram a minha atenção. Nesta época do ano a sua cor destaca-se na paisagem em volta de praticamente todos os povoados do concelho, incluindo a vila. Ainda estou para perceber a razão da sua existência tão próximo das populações. Estou em crer que a tinturaria do cabedal não seria a única utilização dada a esta planta.
O tempo refrescou e caíram algumas pingas de água. Na mochila trago um impermeável.
Já próximo de Vila Flor, atrás da serra, vi na borda do caminho uma sancha. Hesitei em a apanhar, mas atrás daquele vi outra e mais outra. Quase sem querer, dei comigo a apanhar duas ou três variedades de cogumelos sem grande trabalho de os procurar. Entusiasmei-me com a recolha e só uma chamada de telemóvel lembrando que já estava atrasado para o almoço que fez fazer rapidamente o resto do caminho até Vila Flor.
Foi uma longa caminhada. O tempo fresco ajudou e os cogumelos que apanhei na parte terminal do percurso, foi um extra que não estava previsto.
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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 11/27/2010 11:23:00 PM
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