No dia 10 de Junho desloquei-me a Vila Chã da Braciosa para participar na II Festa das Aves. As aves fazem parte da minha vida e, desde miúdo que nutro por elas uma profunda admiração, posso mesmo dizer paixão. Ao longo dos anos poucas vezes tive oportunidade de aprofundar o meu conhecimento sobre estes seres vivos tão especiais mas sempre comprei e li livros (alguns guias) sobre elas. Posso dizer que tenho uma pequena biblioteca sobre aves, rivalizando este hobby com o da fotografia e o da informática.
Além do encontro sobre aves atraiu-me a possibilidade de passar três dias no Planalto Mirandês. Tenho andado bastante afastado e cinco anos de ausência deixam algumas saudades, das pessoas, da paisagem, dos sons e das cores.
Fui o primeiro a chegar à Junta de Freguesia de Vila Chã. Um pouco mais tarde o que o que o programa marcava, juntou-se o grupo e deu-se início ao encontro. Após uma mensagem de boas vindas pela organização, o Dr. Paulo Travassos, do Laboratório de Ecologia Aplicada da UTAD fez a primeira abordagem à observação de aves, equipamentos auxiliares e métodos.
O grupo, composto de cerca de 15 participantes, quase todos jovens, mostrou-se bastante interessado e não se coibiu em fazer perguntas.
A saída para o campo também aconteceu mais tarde do que o previsto, depois de albardados os burros e ajustados os binóculos.
Os burros foram a alegria das crianças, que fizeram um largo passeio, enquanto os adultos se dedicavam a observar os passarinhos.
Dado o adiantado da hora, o percurso foi reajustado, distanciando-se pouco da aldeia. Mesmo na aldeia apareceram os primeiros exemplares, pardal-comum (Passer domesticus) e andorinha-dos-beirais (Delichon urbica), que toda a gente conhecia. Maia tarde foram aparecendo outras espécies menos conhecidas, como o picanço-barreteiro ( Lanius senator) ou a trepadeira azul (Sitta europaea). Mesmo na berma do caminho uma cia (Emberiza cia) levantou voo, denunciando a localização do seu ninho.
De olhar atento e ouvidos alerta seguimos por um bonito caminho ladeado de carrascos. Foram sendo avistadas várias espécies, sobretudo de passeriformes e aves de rapina, sendo observadas, discutidas e classificadas, uma a uma. Os conhecimentos do grupo foram postos à prova, sobretudo com as rapaces (águias, grifos, britangos, peneireiros, etc.) todos tão distantes que só com a ajuda do telescópio conseguimos a sua identificação. Até o cuco-canoro (Cuculus canorus), de cujo o canto já tínhamos escutado à distância, decidiu exibir-se em grande.
Já de regresso à aldeia, junto ao cemitério, havia uma cerejeira carregadinha de cerejas bem vermelhinhas! A maior parte dos participantes não conseguiu resistir à tentação, esquecendo-se das aves.
O almoço, confeccionado pela organização, foi servido no salão da Casa do Povo, teve lugar perto das duas da tarde, ao preço de 6€. O menu era bastante sugestivo: lombo de porco à pisco com batata à pardal. A condimentar este prato havia finos rebentos de alecrim! O menu para vegetarianos também tinha bom aspecto e melhor sabor (mas não tinha rebentos de soja).
Depois do almoço seguiu-se uma pausa para um café, num estabelecimento da aldeia e até para alguns jogos de matraquilhos. Aproveitei também para visitar o interior da igreja matriz onde não me recordava de alguma vez ter entrado. Gostei bastante porque se trata de um monumento muito antigo (Séc. XVIII), com altares em talha dourada dignos de serem admirados. Senti pena de não ter a mão uma máquina fotográfica melhor, mas talvez nos dias seguintes surja uma nova oportunidade de visitar o espaço.
Os trabalhos da tarde iniciaram-se com a apresentação da lista das espécies identificadas durante a manhã. Foram abordados mais alguns conhecimentos teóricos como o canto, pontos adequados para a observação de aves de no território nacional, diferentes habitats, particularidades de algumas espécies mais difíceis de identificar, etc.
Já quase ao fim da tarde houve nova saída para a observação de aves. A hora já não era a mais propícia, mas, mesmo assim, foram identificadas novas espécies, para somar à lista já considerável.
Depois do regresso à aldeia foi servido o jantar nos mesmos moldes do almoço. O menu foi: vitela à moda da tia Bonelli com esparguete cobreira (uma prato muito sugestivo). Há noite houve uma mostra de cinema, mas eu não fiquei para acompanhar mais essa actividade.
Feito o balanço deste primeiro dia evidencia-se o seguinte: os atrasos no cumprimento do horários tem obrigado a ajustes nas saídas de campo que não acontecem nas melhores horas para observar aves; a lista de aves observadas é considerável (e há muitas espécies abundantes que ainda não foram observadas).
Amanhã (dia 11) há mais saídas de campo.
Lista das espécies que observei
1 Águia-calçada - Hieraaetus pennatus
2 Águia-cobreira - Circaetus gallicus
3 Águia-da-asa-redonda - Buteo buteo
4 Alveola-branca - Motacilla alba alba
5 Andorinha-das-chaminés - Hirundo rustica
6 Andorinha-dos-beirais - Delichon urbica
7 Britango - Neophron percnopterus
8 Cegonha-branca - Ciconia ciconia
9 Chamariz - Serinus serinus
10 Chapim-azul - Parus caeruleus
11 Chapim-real - Parus major
12 Cia - Emberiza cia
13 Cotovia-pequena - Lullula arborea
14 Cuco-canoro - Cuculus canorus
15 Escrevedeira-de-garganta-preta - Emberiza cirlus
16 Felosa-do-mato - Sylvia undata
17 Gaio - Garrulus glandarius
18 Grifo - Gyps fulvus
19 Melro - Turdus merula
20 Milhafre-preto - Milvus migrans
21 Pardal-comum - Passer domesticus
22 Picanço-barreteiro - Lanius senator
23 Picanço-real - Lanius excubitor
24 Pintassilgo - Carduelis carduelis
25 Pisco-rabirruivo - Phoenicurus ochruros
26 Pombo-torcaz - Columba palumbus
27 Rola-comum - Streptopelia turtur
28 Rola-turca - Streptopelia decaoto
29 Rouxinol - Cettia cetti
30 Tentelhão - Fringilla coelebs
31 Toutinegra-carrasqueira - Sylvia cantillans
32 Trepadeira azul - Sitta europaea
33 Trepadeira-comum - Certhia brachydactyla
34 Trigueirão - Miliaria calandra
35 Verdelhão - Carduelis chloris
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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Miranda do Douro a 6/10/2011 11:16:00 AM
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