Todas as vezes que vos vejo
E me espelho em vós
Sinto cá dentro o desejo
De vos estreitar a sós!
Sinto saudades imensas
Apertar-se-me o coração
Dos tempos de inocências
E doutros que já lá vão!
Sinto lágrimas bailarem-me
De tantos dias felizes
Os embargos a sufocarem-me
Nestes meigos deslizes!
Vós sois na inocência
Madrigais em flor
Eu já sou a plangência
Cantando no Mundo a dor!
Há bem pouco, eu era então,
Miudinho como vós
Sentindo já no coração
Pesares, carpires e dós!...
Era assim criança imbele
Não sei bem... como dizer
Uma pombinha sem fel
Caída do Céu ao nascer!
Era assim gentil criança
Como vós o sois ainda
Uma saudade na lembrança
Dessa idade tão linda!
Brincava como vós brincais
Em doce paz e harmonia
Sem jamais soltar ais
Do romper ao fim do dia!
Ressaltava e pulava
Nesta Terra sem igual
Eu ainda mal falava...
Tinha o tamanho dum pardal!...
Era assim como vós
Uma florinha d'açucena
Um fiozinho de retrós
A bordar esta cena!...
Vinha p'la mão de meus Pais
A caminho da escola
Soltando longos ais
Ou brincando com a bola!...
As vezes p'la tardinha,
De penumbra doce ou fria
Seguia com minha Mãezinha
Rezar a Jesus e a Maria!
E depois, na brincadeira.
Como vós ainda brincais
A vida era tão fagueira
Como não encontrei mais!...
Poema do vilaflorense Cristiano de Morais, do livro Riquezas e Encantos de Trás-os-Montes, publicado em 1950.
As fotografias foram tiradas no dia 01-06-2009, na Escola EB2,3/S de Vila Flor.
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Publicada por Xo_oX em À Descoberta de Vila Flor a 6/01/2011 01:52:00 PM
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