No dia 26 de Março de 2011 fiz uma longa caminha até Macedinho, freguesia da Trindade. Quase sempre há algo que justifique a escolha para a caminhada, neste caso, foi somente vontade de voltar a Macedinho, onde já não ia a algum tempo. Não é um daqueles destinos que escolho com frequência, mas ainda há uma séria de coisas que gostava de conhecer melhor, como o Castelo.
Macedinho fica a alguns quilómetros de Vila Flor, por isso a caminhada foi só de ida e desta vez sozinho.
Os caminhos percorridos começam a ser bastante repetitivos, mas nunca são iguais. Quer a paisagem em redor, que muda com as estações do ano, quer o próprio piso, que no Inverno se cola às botas em forma de lama e de Verão está repleto de sementes secas que se agarram às meias e se tornam incomodativas.
Estávamos nos finais de Março, com a Primavera já em andamento, mas o dia estava pouco simpático, cheio de nuvens e a ameaçar chover. Nas Capelinhas as glicínias lançavam as primeiras flores, ainda timidamente. Atrás da serra eram as campainhas que cobriam o manto de musgo aveludado sob os pinheiros e castanheiros. Perto de Roios apareceu a carqueja, em plena floração, a torga, em grande quantidade e campos de nabiças em flor.
Depois de ter passado Roios começou a chover. Apesar de estar preparado para a chuva, acabei por ficar com as botas completamente encharcadas, o que me dificultou baste toda a caminhada. Subi a calçada em direcção à Quinta do Dr. Pimentel, que fica a poucas centenas de metros da estrada Vila Flor - Macedo. Na borda do que restava de um pinhal que estava a ser cortado para madeira encontrei umas pequenas orquídeas. Depois de algumas caminhadas que tenho feito nas margens do Rio Sabor, onde tenho encontrado algumas espécies de orquídeas selvagens, tenho-me empenhado mais na sua busca no concelho de Vila Flor, mas não tenho tido muito sucesso. Embora nunca tenha dado notícias disso, há algumas espécies bastante abundantes, embora poucas pessoas olhem para elas como orquídeas. A verdade é que o são.
Quase sem dar por isso cheguei a Vale Frechoso. Junto da capela de Nossa Senhora de Lurdes começa um caminho que leva à estrada, mesmo na direcção certa. Este foi único troço novidade do percurso, porque o restante já o tinha feito em bicicleta ou a pé.
Passei junto à Penha do Corvo, tendo em vista o marco geodésico da Pedra-luz. Durante muito tempo avistei ao longo do caminho pegadas bastante profundas. Seriam de um lobo ou de um cão? Não cheguei a descobrir, mas senti alguns arrepios, como se o animal me estivesse a observar. Vi várias vezes lobos em liberdade nas minha juventude.
Cheguei ao marco geodésico conhecido por Pedra-luz, perto das duas das tarde, com cerca de 14 quilómetros percorridos. Pelo caminho já tinha comido a merenda, mas a bateria da máquina fotográfica já estava com falhas e o entusiasmo já não era muito. Tentei adiantar caminho descendo quase em linha recta em direcção à aldeia, mas foi asneira. Aquelas montanhas são muito perigosas, cheias de poços da exploração mineira. Curiosamente há evidências de prospeções recentes com tubos novos, com menos de um ano! A vegetação é muito densa e impossível de penetrar. Mesmo cansado, voltei a trás e segui o caminho que já conhecia, que me levaria entre Macedinho e Vale da Sancha. Foi então que algo apareceu para animar a minha peregrinação. Foi mais uma planta, cheia de botões prestes a explodir de côr. Não era uma planta qualquer mas sim Peónias, também conhecidas por ramos-de-raposa, ou rosa-albardeira (Paeonia officinalis). Foi um achado! Já tinha percorrido aquelas encostas pelo menos 3 vezes, mas nunca tinha tido a sorte de encontrar esta espécies, totalmente desconhecida para mim no concelho de Vila Flor. Enquanto descia a encosta fui encontrando mais exemplares desta planta.
Este achado animou-me bastante e cheguei a Macedinho perto das três da tarde.A tranquilidade no pequeno povoado era total. Circulei durante algum tempo por entre as casas sem ver ninguém (o que não quer dizer que não sejamos vistos).
A capela está situada no centro da aldeia, perto de outra, mais pequena, de S. António. Já a visitei várias vezes, mas foi recuperada em 2008. No frontispício está uma placa em mármore evocativa desse restauro. Trata-se de uma capela maneirista e barroca, com uma planta longitudinal composta por uma nave, uma capela-mor e uma sacristia rectangular adossada. Na fachada principal, destaca-se uma pequena sineira e um portal de verga recta e, no interior, um retábulo-mor de barroco.
Esta foi uma das mais demoradas caminhadas realizadas nesta série "Peregrinações", embora não seja a mais longa. O mau tempo e o terreno acidentado foram os maiores problemas, mas o balanço foi muito positivo.
Mais tarde voltei a Macedinho, de carro. Subi ao alto da colina em busca das peónias mas fotografei outras espécies. Foi uma tarde fotográfica memorável.
--
Publicada por Aníbal G. em À Descoberta de Vila Flor a 6/23/2011 08:52:00 AM
Sem comentários:
Enviar um comentário